quarta-feira, 19 de março de 2014

Sólido

Olhou o tempo como quem enxerga o sólido e pestanejou.
Resolveu falar. Não era de se intimidar com aqueles que desdenham dos que falam sozinho.
Pensou na carteira que levava no bolso.
Velha e vazia.
Pensou na mãe que ainda passava suas camisas.
Desejou muito ter um cachorro para quem pudesse jogar um graveto e ficar esperando receber de volta.
Olhou o tempo como quem enxerga o óbvio.
Pensou em sorvete. Chocolate com laranja.
Quando apresentou esse sabor à Brígida eram duas novidades.
O sorvete para ela e esse nome para ele.
Sempre quis saber as origens dos nomes, mas para ela não perguntou.
Agora era tarde. Nunca mais saberia.
Olhou para o tempo como quem enxerga o obsoleto.
Resolveu se calar. Já estava quase no trem e aí sim, era um perigo ser confundido com os loucos que falam sozinho.