sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Procuro a cômoda

A Cômoda de Mário Quintana
tão gorda e fechada não sofreu
menos do que o meu guarda-roupas
alto, desajeito e com a porta
sempre escancarada.
Emparedado, engavetando tantas
bobagens, lutando contra a poeira
sem poder se mexer.
Sofre mais o meu guarda-roupas
porque nunca ninguém irá conhecer.

Escrevi esse texto numa página solta de uma agenda velha no dia 02 de julho de 1990, uma segunda-feira, às 13h30. Hoje procuro pelo poema de Mario Quintana que o provocou e não encontro.
Não na internet. Não tive tempo de olhar meus livros.
Será que o tempo me prega uma peça?
Será que esse poema não existe?

Minha procura me fez encontrar Fabio Rocha (A Magia da Poesia www.fabiorocha.com.br/) a quem enviei um e-mail que gentilmente foi respondido, mas sem esperanças para minha busca: Não sei... Eu tenho a obra completa dele e não lembro pelo título desse poema não. Pode ser falsa autoria...

Será que o tempo me espreita e brinca comigo?
Com meus achados, com meus guardados.
Será que aquele velho guarda-roupas ainda repousa naquele apartamento?
Será uma vendetta daquele que já sabia ser um móvel imóvel, anônimo e quase inútil e agora assim, exposto em um texto ruim, de tantos anos?

Mas encontrei isso:
O espetáculo infantil QUINTANA IN CÔMODA tem roteiro criado a partir de poesias de Mario Quintana.

FICHA TÉCNICA
Roteiro: Ana Carolina Makki Dal Mas
Direção: Fabiano Tadeu Grazioli
Cenografia: Jolcinei Luis Bragagnolo
Figurino: Fabiano Tadeu Grazioli, Jolcinei Luis Bragagnolo
Trilha Sonora: Fabiano Tadeu Grazioli
Iluminação: Ana Carolina Makki Dal Mas
Maquiagem: Grupo Teatro de Gaiola
Elenco: Adriano Massaro, Ana Carolina Makki Dal Mas, Tiago Luis Rigo

Todo dia devo aprender uma coisa nova.
Hoje aprendi que talvez eu não devesse reler essas minhas coisas velhas!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O que eu vou ser...

Quando morrer. É isso aí. Decidi há muito tempo mas não comuniquei oficialmente.
Eu serei um espírito que cuidará dos animais.
Não é nada romântico. Cuidarei daqueles animais que morrem atropelados nas rodovias e ruas.
Dos cães que ficam à margem nas marginais do dia em que morrem até o dia em que são completamente consumidos pelo tempo. Eles ficam lá, inchados, e... bom, não é um assunto agradável.

Ninguém que trabalha na prefeitura circula pelas marginais? Ninguém vê? Ninguém toma nenhuma providência?

Esse não será o meu trabalho. Eu sussurrarei no ouvido de cães e gatos e aves e cavalos e tatus e cobras que não atravessem, que mudem seu caminho, que esperem, e se eu não tiver sucesso, eu assombrarei os motoristas.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Dias úteis

Escrevo só em dias úteis. Mas não quero discutir o conceito de útil, inútil. Não agora.
Acabou-se o carnaval de 2009.
Para alguns acabou para sempre.
Hoje é metade útil para alguns. Outros já planejam a próxima festa.
Alguns fazem planos a longo prazo.
Outros mal sabem como vai acabar o dia.
Eu vou viver mais de cem anos.
Ainda tenho muito tempo para pensar em começar a planejar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Todas as frutas

Sou caipira.
Um dos atributos desse target é o gosto pelas frutas que se come no pé.
Moro em uma casa com quintal mas sem terra, não faz mal, tenho frutas nos vasos.
Essa goiabinha aí do lado já comi.
E já colhi jaboticaba, pêssego e pitanga.

As frutas da minha infância são maiores, mais coloridas e mais doces.

Com a minha amiga Ana Rosa eu comia jaca e jambo. Jaca por diversão, não é gostoso.
Na praça principal de Tupã, onde fica o colégio Bartira, onde eu fiz o primário, eu enchia a boca de jatobá, para abri-la em seguida e espantar todo mundo.

E pitanga, tangerina, manga, muita manga!
Jabotica, maracujá, laranja e ameixa (azeda!).
Até mesmo melancia.
Goiaba.
Siriguela.

Todos os sabores, cores e texturas agitam a memória afetiva, um verdadeiro bloco nessa véspera de carnaval ensolarado! Enquanto minha primogênita me adverte:

- mãe, tem uma plaquinha no meu estômago escrito: proibido frutas!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

5 minutos de bobeira

No corredor um grupo de colegas de trabalho que saem para almoçar esperam pelo elevador.
Os assuntos são os mesmos de sempre: um projeto pelo meio, um fulano que não responde e-mail, uma apresentação para terminar, um número que não bate, um colega que olha feio, muitas reuniões, férias adiadas, produto para lançar.

Prédio inteligente, nem todos os elevadores servem todas as torres, mas são vários e mesmo assim demora.

No meio do burburinho há um ser que não faz parte desse grupo.
Uma mocinha arrumada, pastinha na mão, desconforto.

E de repente, a pergunta que só se faz nos nossos concedidos 5 minutos de bobeira por dia, feita por ela, logo por ela que parecia rezar para ser invisível:

- esse elevador só sobe?

Uns se entreolham, outros buscam a melhor resposta e o mais magrelo de todos cai na gargalhada respondendo com outra pergunta:

- se um elevador só sobe, aonde é que ele vai parar?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Histórias de Recife


Morei em Recife em uma época em que não existia BankLine.
Não faça essa cara, nem faz tanto tempo assim!
Como não tinha BankLine, acho que nem mesmo BankPhone, era preciso ir às agências.
Eu precisava especialmente saber como movimentar minha conta, já que algumas operações só eram possíveis na agência onde a conta havia sido aberta.
Aproximo-me do balcão e uma moça sorridente me olha mas se afasta, sem me atender.
Observo que fala com um, e fala com outro, me olhando e sorrindo.
Penso em um daqueles cartazes de procura-se com a minha foto.
Mas, apesar dessa distração, meu time é diferente do dela e resolvo intervir:
- Por favor, poderia me atender?

Ela se aproxima rindo ainda mais, olhos espantados, sobrancelhas levantadas, boca aberta e eu penso, ai meu deus, me achou! Mas ela diz:

- olhe só, fala português! E eu doidinha procurando alguém que falasse inglês pra lhe atender! Ma rapaz, galega desse jeito, quem diria! (sic para a frase inteira!)

É, quem diria.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Retalhos do Cotidiano

Estou na Cobasi do Morumbi e vejo um cachorro fofo. Pergunto o nome.
- Almeida.
Almeida? Acho muito engraçado e ele me olha certamente pensando:

...tá rindo do quê? você se chama Lusia e apesar de ser com S não foge do estigma de que elas sejam sempre retratadas como mulheres pobres e sofridas...

Luzia é o nome dado a um crânio de 11 mil anos, descoberto entre Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte em 1975

Luzia é o nome da empregada doméstica que engravida do patrão, personagem de estréia de Cláudia Abreu, na novela Hipertensão de 86!

Luzia é o nome da presidiária do último capítulo da novela A Favorita: ... Eu sou nova aqui, meu nome é Luzia. E o teu? - Donatela. ...

Luzia é o nome fictício da mulher que aparece hoje no Estadão ilustrando maus tratos infantis

Por favor, enviem e-mails aos autores das novelas da Globo e peçam um personagem de nome Luzia representado por Beatriz Segal, Fernanda Montenegro, uma mulher clássica, culta, amante das artes.

Eu preciso me vingar do olhar zombeteiro do Almeida!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

When the Moon...

Nunca me ocorreu que essa conjunção astral ocorreria de verdade.
Pensei que era apenas uma canção que não ouso cantar porque devo poupar o equilibrio do universo do meu desequilibrio vocal.
Mas, recebi um email contando que depois de 40 anos esse fato, de fato, ia ocorrer. E deve ter sido assim, no último sábado, dia 14, ao alvorecer.

Tive um amigo que acreditava nessa canção e também acreditava na paz.
Hoje ele faria 44 anos, mas deixou de fazer aniversários em 10 de dezembro de 1988.
Ele não amanheceu para ver a lua na sétima casa e júpiter alinhado a marte, deve estar varrendo as estrelas.

O mais incrível é pensar que ele não conheceu a internet.
Ele não conheceu minhas filhas.
Ele não conheceu Granada.
Ele não entendeu a pergunta: porque Tico e não Chico?
Ele não viu minhas sapatilhas ganharem saltos altos e, certamente, imagina que em uma reunião de negócios eu seja apenas uma personagem.
Ele não conheceu celular.
Ele não se preocupou com inspeção veicular.
Ele votou no PT, minha nossa! Como reescrever essa parte da biografia?

Uma das mortes da minha vida, when the moon...Não, não sei onde ela estava!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Treinamentos de RH e a Esfinge

Não direi que são horríveis.
Não agora que estou between jobs. Mas alguns são constrangedores.
Lembro-me de um especialmente.
As laterais da orelha da senhora contratada indicavam uma idade incompatível com a roupa de As Panteras que ela ostentava. Eu não conseguia me concentrar porque os lados direito e esquerdo do meu cérebro trabalham ao mesmo tempo e ambos queriam enquadrar a figura, encontrar conexão entre imagem e comportamento e foi um sofrimento.

E nesse mesmo dia, em um exercício de feedback em que você ficava cara a cara com um colega de trabalho, eu ouvi:

para mim você é uma esfinge e eu tenho direito a uma pergunta, e fico nervoso porque tenho medo de fazer a pergunta errada, porque sei que perguntas estúpidas te deixam nervosa

Nada poderia ter sido mais profundo e então eu mudei para sempre!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sobre o tempo os dividendos

Os bancos de areia nunca vão à bancarrota.
O sol depositado na pele branca, parda, negra ou amarela, setenta anos depois ainda cobra seus dividendos.
Olho em volta e tropeço em nuvens.
Ergo as mãos e acaricio um gramado isolado dos grandes pés e povoado de seres minúsculos.
Já fui uma lesma. Deixei um longo e tortuoso caminho brilhante que quando tornou-se uma reta encontrou uma paralela e evoluiu.
Fui então um morcego na caverna. Preguiça tanta que só me alimentar era o suficiente para estafar.
Dessa preguiça eu trago lembrança.
Transformada em tartaruga em um trecho de música de Arnaldo Antunes: tartuga por dentro é parede.
E depois uma cobra d´água, um lambari.
Uma coruja e não queria ser mais nada até renascer um gato malhado. Vira-lata brejeiro com um único sonho simples: ser recolhido pelo açougueiro.
E evoluindo fui, com Charles Darwin me repensando silenciosamente durante 20 anos para, aos 50, publicar o que muitos não digerem até hoje.
De todas as minhas evoluções a que mais me espanta é aquela que não ouso narrar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Chame Táxi

Chamei. Na rua mesmo. Embarquei no Itaim e fui até a Marques de Itu, no Centro.
Lugar insólito para mim. E pensar que eu traçava aquelas ruas com minhas alpargatas de sola de corda desenhando o trajeto de um teatro a outro.

Voltando ao táxi, fui abduzida pelo rádio da central que ficou ligado e eu nunca peço para que seja desligado, gosto de ouvir.

309 é primo do 1. (?)
Copiei central.
Alameda Santos, 237, alguém mais próximo?
Eu, na Av. Paulista, 10 minutos.
3 minutos?
10 central, eu falei 10 minutos central. (impaciente)
No ponto de encontro de Congonhas é o Fabiano. Fabiano no ponto de encontro de Congonhas, de camisa azul. (será que é um dos fabianos que conheço?)

Imagino o que eu e meu deficit de atenção faríamos com a central.
Guardadas as devidas proporções e a atenção dos motoristas, combinado?

A parturiente chegaria em alta velocidade no Terminal de Embarque de Cumbica.
O executivo chegaria no Santa Joana sem entender o percurso e o porquê.
Alguém esperaria minutos intermináveis por um táxi no Shopping Jardim Sul, enquanto um motorista no Shopping Cidade Jardim praguejando diria: quanto mais rico mais sem respeito!

É. Não é fácil não.
Sempre é preciso calçar o sapato alheio e percorrer calçadas, atravessar correndo a faixa, pular a poça d´água, chutar uma pedra e por aí vai.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

De dentro pra fora

Na minha infância a minha casa vivia cheia de gente. Simplesmente porque era impossível ser diferente onde havia pai, mãe e cinco filhos. Mas era só.
Nunca fomos de receber muitos parentes, apesar de termos uma árvore genealógia parecida com a General Sherman.
A General Sherman é uma sequóia-gigante, que fica no Sequoia National Park, Serra Nevada, Califórnia. Calcula-se que supera os 2000 anos de idade, possui 1.487 metros cúbicos, aproximadamente 84 metros de altura e o tronco, na base, um diâmetro de cerca de 11 metros.
Mas, todas as raízes, galhos e folhas morando em cidades diferentes e distantes tornavam as visitas raras mesmo em épocas especiais como Natal.

Também não era uma casa de ficar com portão e portas abertas para entra e sai de vizinhos, apesar de ser uma casa em uma rua quieta de um bairro em uma cidade do interior.

Por isso, talvez, eu tenha demorado tanto para entender porque é que minha mãe punha a cortina do avesso.

Para mim não fazia nenhum sentido que a parte bonita da cortina ficasse para dentro da sala, dos quartos e que o forro ficasse a mostra, para fora da casa.
Eu entendia que quem precisava ver a estampa, a renda, o laçarote ou o que quer que seja da cortina eram as pessoas que viam a nossa casa de fora para dentro.
Quem passava na rua. O vizinho que espiava. O carteiro. O leiteiro. O verdureiro. O homem do algodão doce. A mulher que vendia Yakult. O sorveteiro.

De fora pra dentro. Nem a cortina conseguia me convencer da doce história da beleza interior.
Imagina quanta matéria prima eu forneceria a um terapeuta? Ele explicaria a minha vida inteira baseando sua tese nessa minha distorção.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Felipão no trem bala

Hoje o Chelsea anunciou oficialmente a demissão do técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari.
Ainda não li nenhum comentário do Felipão a respeito.
Ser demitido é como ser obrigado a descer do trem ainda em movimento e no meio do trajeto, longe de qualquer estação.
Surpreende, machuca, ficamos meio tontos e olhamos para todos os lados.
Aí decidimos se vamos caminhar até a próxima estação ou a que ficou para trás, independentemente da distância.
Escolhemos normalmente a próxima e seguimos.
Chegamos, cansados mas aliviados, e seguimos outro rumo.
Que delícia descobrir que nossa bagagem é leve e tem muita coisa legal.
E a felicidade, que nem é muito bonito contar, quando descobrimos que não é mais preciso fazer caras e bocas para as fraudes que parecem crescer ao nosso lado sem que ninguém se dê conta?
Imagina ter que escalar um atacante só porque o dirigente tem lá suas preferências?
E o zagueiro? Importado de um país de terceiro mundo que não fala inglês, que não entende bem os sinais, mas que tem um empresário ardiloso e bem relacionado e que decidiu morar em Londres?
Sem contar os laterais. Ah, esses estão com tudo, dão festas animadíssimas, conhecem as inglesinhas certas, todos os cantinhos escondidos, mas aprenderam a lição e só saem em fotos beijando a camisa ou abraçando o companheiro ignorando tudo o que aprenderam sobre olfato.
Esses são a joia da coroa. Quem viver verá.
Existem ainda treinador de goleiro, juiz, gandula, mas essa gente não conta. Não tem glamour.
De repente saberemos o destino do Felipão, ele tem crédito para embarcar no trem bala!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Vivo Morto Patrocinio - coisas que incomodam

Nenhum cartola ainda tirou da mesma a ideia de que um profissional de marketing poderia fazer milagres pela marca que eles tem nas mãos.

Porque eles não abrem as mãos de medo de perder coisas, principalmente dinheiro ou poder, que nesse caso são sinônimos.

Ir a uma loja do Barcelona na beira da praia é uma experiência incrível. Mesmo que isso nos deixe constrangidos ao contar entusiasmadamente para um ser corporativamente superior, espanhol e amante do Real Madrid.

O fato é que fiquei chocada com a Vivo anunciando o patrocínio do Brasil de Pelotas.
A conexão vivo - morto me incomoda bastante.

Há algum tempo atrás eu costuma brincar dizendo que o target da Vivo eram os vivos porque patrocinavam todo tipo de coisa e agora, sigo incomodada.

Eu adoraria brincar de planejar e inventar maneiras de gerar negócios com marcas de futebol.
Mesmo que não fosse com a marca do meu time do coração.
Eu e um monte de gente. Quando será que isso vai mudar? Será que vai?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Coisas esquisitas de 2008

Em outubro de 2008 eu vi Woody Allen tocar com sua banda no restaurante do Hotel Carlyle em Nova York.
O nome verdadeiro dele é Allan Stewart Konigsberg, considerado a grande revelação humorística da década de 70 é um judeu americano nascido no Brooklyn que todo mundo conhece.
Metade gosta, metade não gosta e eu não sei.
Assisti Vicky Cristina Barcelona e gostei mais de Barcelona do que do filme em si, mas eu adoro a Espanha, assim, sou suspeita para falar.
What does Woody look like?

Um bichinho de goiaba. Branco. Enrugadinho. Encolhidinho. Querendo se mostrar para não ser comido, mas querendo se esconder para comer.

O restaurante é pequeno, charmoso, comida boa. Poucas pessoas, mas no meu dia muitos brasileiros, um braseiro!

Então, episódio eleito como um dos momentos esquisitos de 2008!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

conversar com os ouvidos


Fico sempre atenta ao que ouço em volta.
Parece coisa de bisbilhoteiro, mas gosto de ouvir como as pessoas usam as palavras.
Como compõem a frase.
Gosto de ouvir os muito mais velhos porque trazem um requinte esquecido.
Gosto de ouvir os jovens porque aprendo novas gírias e uso impensável para palavras tão inocentes.
E gosto de, enquanto tento atualizar o blog, ouvir as meninas em aventuras frasísticas!

- mãe, o almoço está servido, o almoço não! o jantar, ah, que tal almoço noturno?
e já na mesa eu digo:
- não tome tanto suco que assim não come!
- sério, por que? a comida bóia?
e uma das antigas, após umas tossidas pergunto:
- engasgou?
- não, minha garganta perdeu o equilibrio mas já estou bem
Eu não estava preparada para essa resposta de uma menina de 6 anos. Agora meus ouvidos já conversam melhor.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Encontrei Manoel


Ontem, 2 de fevereiro, cheguei cedo para um almoço.
Porque sou britânica com os horários e porque me sabotei, assim teria que fazer uma horinha na livraria. Que coisa!
E foi lá que encontrei Manoel. Manoel de Barros e seu livro: O livro das ignorãças.
Desde então estou feliz, apesar de já ter terminado o livro algumas frases ficam ecoando em mim.
Podem ouvi-las?

as coisas que não existem são as mais bonitas
maior que o infinito é o incolor
não tem altura o silêncio das pedras

E seguimos fazendo filmes publicitários para vender coisas.
Encontrei Manoel, mas ele não estava em nenhum anúncio.
O almoço foi bom e voltei para casa.
Veja como a garça deixa que eu me aproxime para tirar uma foto.
Ela sabe que é escandalosamente linda! Oferece-me um espetáculo que também não foi anunciado nem na tv, nem na internet, em nenhuma das revistas e jornais que assino.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Mais do que palavras

Algumas palavras pontuam nossa vida. Umas como se fossem uma exclamação, outras como ponto final e algumas como reticências.

Quando eu tinha uns 6 anos eu achava que amante era a palavra que definia a mulher que namorava um homem casado. E só.

E me escandalizava sozinha, olhos arregalados em uma cara sardenta com a música do Roberto Carlos que cantava na maior falta de respeito amada amante... E minha irmã cantava junto com o rádio, com a voz cheia de emoção e minha mãe, tão severa com nossa educação, não falava nada! Na minha cabeça era um escândalo e o mundo estava mesmo perdido.

Outra palavra que carrego vergonhosamente comigo é estômbago.
Percebi que todo mundo achava graça das crianças que falavam errado. Eram risinhos, mão na cabeça, apertão nas bochechas e para mim nada.
Arquitetei por um tempo e encenei: mãe, tô com uma dor de estômbago! E já me preparei para as gracinhas, mão na cabeça e que tais. Mas o que ganhei foram umas mãos na cintura, uns olhos verdes tentando fingir indiferença me indagando:
- e essa agora? desde quando não sabe falar estômago? não sabe que a sua graça é falar tudo direitinho?
Estava tudo acabado, para não se prontificar a me dar um remedinho...

E, finalmente, ribanceira.
Quando eu tinha 17 anos elegi essa palavra como sendo a mais bonita que eu conhecia, a que eu mais gostava.
Ensaiei inúmeras vezes, em frente ao espelho, a resposta do porquê caso em uma entrevista me fizessem essa pergunta.
Eu pensava que o estrelato viria rápido. Já não me lembro qual era a resposta, mas ainda acho linda, sonora, poética, e quem sabe que segredos estão lá embaixo?