segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Caronas

Sempre tenho assunto. Às vezes para escrever aqui não exatamente, me fogem as palavras, uma ideia quer se sobrepor a outra. Muitas vezes uma história fica chateada porque ainda não foi contada e outra não me desculpa por ter sido assim, aberta sem maiores cuidados.
E talvez por isso eu me pergunto: quem são os caronas que dormem nos carros dirigidos por outrem?
Faço um longo trajeto e não posso deixar de observar um motorista entediado, com olhar fixo na frente, mas que nem sempre é atenção, é pura falta de opção.
O carona dorme em poses variadas.
Muitos com fones de ouvidos. Outros com a cabeça apoiada no vidro, a boca amassada sorrindo torto para mim.
Travesseiros improvisados. Óculos escuros ocultando a pestana caída.
Eu teria tanto assunto! Reformaria uma casa inteira.
Discutiria a última rodada do campeonato.
Pensaria em nomes para a reinauguração da farmácia.
Contaria uma tirinha do Calvin. Pensaria na próxima produção de Garfield.
Listaria alguns livros que ainda não li.
Contaria um causo da minha infância.
E faria perguntas, claro. Não estamos falando de um monólogo.
E observaria as respostas do interlocutor conforme o assunto. E mudaria de tema se não tivesse eco e aprofundaria o tema se percebesse entusiasmo.
Mas jamais dormiria enquanto alguém dirige para mim, por mim, comigo no carro.
Apesar de conhecer gente que paga para o carona ficar calado.

É, isso dá outro texto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Marafona: a história dela e a minha

A marafona é uma boneca sem olhos, boca, nariz ou ouvidos. Sua armação é uma cruz de madeira revestida com tecido colorido.
A palavra marafona tem origem árabe e quer dizer mulher enganadora. Mas, no caso das bonecas de Monsanto, são utilizadas para celebrar a fertilidade e a felicidade conjugal. As marafonas fazem parte da tradição de Monsanto na Festa das Cruzes, celebrada no dia 3 de Maio se for domingo, caso contrário, no domingo seguinte.
Durante a festa, mulheres casadoiras bailam com as marafonas. Depois da festa as bonecas são deixadas em cima da cama onde têm o poder de livrar a casa das tempestades de trovoada e de mau olhado. No dia do casamento guardam-se debaixo da cama (como não têm olhos, orelhas, boca, nada vêem, nada ouvem nem nada podem contar) para trazer fertilidade e felicidade ao casal. As marafonas estão associadas ao culto da fertilidade.
Pois bem, a história da marafona é essa e a minha conta que
em agosto de 1998 meu pai nos deixou, em menos de 15 dias adoeceu e se foi e nem tive tempo de entender o que aconteceu.
Tinha programado uma viagem de férias para Portugal em setembro e, apesar de muito triste, resolvi não cancelar. Muitos recomendaram como ajuda para acalmar o coração.
Voamos para Madrid e de lá fomos de carro para Portugal.
Nossa primeira parada foi em Monsanto. Já tinhamos reservado uma pousada e chegamos a noitinha. A primeira pessoa que encontramos foi uma senhora vendendo Marafonas, para quem pedimos indicação do endereço da pousada.
Ela me pegou pelo braço, me indicou a pousada, mesmo tendo reserva me disse que se não desse certo eu poderia dormir na casa dela e, me ofereceu uma marafona.
Diante de tanta gentileza eu não podia recusar. Comprei sem saber o que era, para que servia e fui cuidar de admirar a pousada, tomar banho, jantar, descansar e, no dia seguinte, depois de ver em todas as lojinhas a tal da marafona, me informar do que se tratava.
Voltamos para casa vinte dias depois.
E, pouquíssimo tempo depois, fiquei grávida da minha primogênita.
Já estava casada há mais de 8 anos, nos últimos 3 querendo muito um bebe que não vinha.
No primeiro momento fiquei tão desconcertada com a idéia de que tive que deixar de ser filha para ser mãe... mas, depois, pensei que talvez meu pai tenha negociado esse meu encontro com a marafona para transformar a minha vida para melhor para todo o sempre!
As histórias se misturam e não temos muito controle sobre elas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Preciso mais do que isso?

Diante da folha em branco, um desenho.
Diante dos olhos brilhantes, um sorriso.
Diante da sede, uma cerveja gelada que não há poesia que possa resistir a uma tarde quente, a areia grossa, ao pé na água.
Uma água de coco depois, um sonho daqui a alguns minutos.
Transformar a incontinência verbal em algo que não machuca.
Em algo que pode ser bom.
Contar histórias...

- mãe, quando o papai do céu me mandou pra você, tinha acabado as crianças obedientes lá, e aí ele me mandou eu mesma...

Inocência. Prudência. Talento para se proteger da vida.
Ser simples não é simplificar, é compreender o complexo.
É administrar um ser que quer dormir mais meia hora mas que quer chegar no horário ao trabalho.
Que quer olhar a lição a noite, mas tomar um vinho e jogar conversa fora.
Ter um gato no colo, um livro e uma folha em branco.
Preciso mais do que isso? Crianças dormindo em paz...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quem é?

Aos poucos foi separando os dados da própria biografia para tentar não esquecer de quem era.
E isso era urgente porque os anos se acumulavam sem piedade.
Começar pela história do pai que para uns fez história em grande carreira no mercado e para outros, era um simples trabalhador, que mantinha a família em uma casa humilde.
Que diferença há realmente entre um e outro?
Qual desses personagens abre portas, fecha portas, embaraça, ilumina?
Depois contou os passos que caminhava para economizar dinheiro de ônibus e para conseguir pagar a faculdade.
E quem era aquele que teve um carro roubado no portão do Ibirapuera?
Que diferença fez esse personagem na história de agora?
Entre um curso e outro não terminou nenhum. Mas da biografia desenhada sobre a história da medicina até indicou um remedinho.
Que segredos habitam olhar tão triste e tão distante.
Quem é esse que vive entre nós e que não se decide e de quem não se gostaria menos se não nos detalhasse nuances de uma biografia que nunca existiu?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Assim nasce a simpatia, o bairrismo

Futebol não é um assunto para todos, mas deveria ser.
Nas entrenhas, nas entrelinhas do futebol podemos entender como nascem as simpatias, as antipatias, o bairrismo.
Quando éramos sete em minha casa, a bola da vez, em determinado momento era minha mãe. Ainda que naquela época essa expressão não existisse.
Ela gostava do Santa Cruz de Recife. Só pelo nome, Santa Cruz, talvez por seu lado católico.
Quando lá morei, eu ia sempre ver os jogos do Sport Club do Recife porque alguns amigos eram torcedores e sócios do clube. Assim, chegávamos cedo para um longo almoço e a siesta era um bom jogo.
Gosto do Santos, por exemplo, não consigo antipatizar, apesar de torcer fervorosamente para o meu clube nos clássicos. Mas conheço a Vila. Conheço o acervo do clube com todo o material do Pelé e, claro, conheço a lojinha!
Simpatizo com Paulista de Jundiai, que ganhou a Copa do Brasil de Futebol de 2005 do Fluminense, porque moro lá e por que sou bairrista? Hum... começou. Mas admiro o Fluminense, porque tenho amigos fluminenses mais roxos que aqueles que torcem pro... Como é mesmo o nome daqueles que se vestem de preto e branco?!? Não os da Vila, os outros. É... Fácil fazer material gráfico pra eles, nem tem número de pantone.
E agora, mais bairrista do que nunca, consegui simpatizar com o Internacional pela intrigante versão da origem do time.
Dizem que uns paulistas foram para o sul e não podiam jogar no Gremio, que era um time de alemães, super tradicionais.
Pois bem, os paulistas criaram um time pra eles e ainda chamaram de Internacional para deixar bem claro que ali podiam jogar caras de qualquer nacionalidade.
Não é bairrista? Não é simpático?
Futebol é isso. Confusão nas quatro linhas, na pequena área e até nas entrelinhas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Para que servem os primos?

Primos servem para muitas coisas.
No Brasil, um dos mais famosos é o Primo Basílio.
Que não era primo de Engraçadinha que também causou frisson na noiva do primo que não era primo era irmão.
Histórias envolventes, apaixonadas, complexas.
Eu também tenho muitos primos e primas com muitas histórias, mas nem de perto e nem de longe dessa magnitude.
As minhas histórias são singelas, não recheiam um capítulo, que dirá um romance.
O mais intelectual dos meus primos estudava japonês, em uma época em que falar uma segunda língua era um luxo para os educados em francês. Sua visão de futuro realmente o levou longe.
E, na mesma família, um dos caçulas até hoje é lembrado por sua deixa surpreendente.
Quando alguém dizia algo que suponha ser engraçado e não repercutia, ele não deixava barato, com um sorriso sem graça, para deixar os outros ainda mais sem graça, ordenava:
- ahahahah, traz os galfos...

E a mim cabe explicar que, como a piada não tinha graça, era necessário usar uns garfos (garfos, parentes das colheres!) para fazer cócegas e aí sim, provocar o riso.
É, pensando bem, é bem complexo! Primos... Melhor não tê-los, mas se não tê-los como sabê-los.
Acho que já vi isso em algum lugar
- ahahah, traz os galfos...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A rotina engole a poesia, mas precisa?

Estava deitado no céu mas não via nenhum avião
O estômago apertava as costas querendo escapar
Tudo o que via dos dedos eram unhas enegrecidas
Nada cabia dentro dele, nenhum sentimento
Nenhum sentido para uma vida de escuridão
E mesmo assim estava deitado no céu
O ronco dos motores pareciam bem mais perto que antes
Era só sinal de manhã chegando
A noite sempre risonha, a última a sair da festa
Maquiagem borrada, um pé de sapato de salto na mão
O outro brincando de desequilibrar ainda no pé
Estava deitado no céu mas já não sentia as nuvens
Céu de chuva, cheiro de chuva
Recomeçar
Bater cartão, terminar o relatório, atender um cliente
Ler um contrato, entrar no sistema e refazer o pedido
Cerveja com a galera do futebol
Estava deitado no céu, mas nenhuma poesia sustenta
o dia a dia de quem está onde está porque simplesmente
não pode estar onde gostaria de estar
simples

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Coisas & Causos do Interior

Não posso dar nomes. Não posso ofender memórias e suscetibilidades de quem, da família, talvez nem saiba dos causos que vou contar.
O fato é que há muitos anos atrás, mas muitos mesmo, meu pai trabalhava em uma empresa de ônibus de uma cidade do interior.
E, o dono da tal companhia, não era dono dessa empresa e de muitas outras, assim como de muitos imóveis, à toa. Cuidava de seus rendimentos como nenhum outro.
Por exemplo, se uma telha de sua casa quebrasse, a reposição era simples, ía até uma das casas que alugava e tirava de lá, para ajeitar a sua. E o inquilino, se não quisesse uma goteira nova, que tratasse de comprar uma telha nova, por que não?
Certa feita resolveu candidatar-se a prefeito da cidade.
Seus comícios são históricos e duas passagens podem retratar sua particularidade.
Nas cidades maiores do interior, muitos vilarejos fazem parte da mesma administração e em um encontro com moradores, ao ouvir a reclamação de que não tinha luz no local, a proposta foi:
- muda pra Marília, lá já tá tudo ajeitado!!! ops...

Em comicio um discurso inflamado:
- ... porque eu di 3 ônibus para...

Ao que foi puxado pela manga do paletó pelo assessor que lhe corrigiu:
- não é eu di, é eu dei!!
E em alto e bom som, indignado:

- você não deu nada, você nem tem ônibus!!! pois eu sim, eu di, 3 ônibus...

Ele não foi eleito, mas sua singela biografia e as histórias de sua candidatura ainda fazem parte das histórias de familia. Não estão em nenhum livro e, no entanto, sempre na lista das mais contadas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O que não vemos, por que não vemos?

Fazemos o mesmo trajeto por dias seguidos, semanas, meses, anos e não vemos as coisas que se nos mostram no caminho.
A árvore que aí está não cresceu de um dia para o outro, de uma semana para outra, de um mês para outro, de um ano para outro.
Não tenho idéia de quantos anos ela tem, mas sei que passo por ela há cinco anos e só agora me ocorreu enxergá-la!!
Linda. Solitária. Gritando suas flores de cor desconcertante.
Há alguns dias eu finalmente a vi e hoje parei no acostamento para fotografar.
Foto apressada, polícia rodoviária atenta, caminhões no acostamento, homens - chapa que se oferecem para guiar os caminhões. A realidade de uma rodovia quase rua e a árvore lá.
Uma solidão majestosa. Um vento que derruba flores em formigas? Quem saberá?
O que não vemos, por que não vemos?
O aceno do porteiro que morre no ar porque não olhamos para ele.
O bom dia do segurança que fica atado na garganta porque não olhamos para ele.
O sorriso da recepcionista que fica amarelado no rosto porque não olhamos para ela.
O que não vemos, por que é mesmo que não vemos?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O que é o destino?

Esse é o Theodoro. Um gato cuja ficha do veterinário, além do nome pomposo, registra SRD, ou seja, sem raça definida.
Há dez anos eu estava muito grávida, de uns 7 meses e fui com um grupo de amigos a Mairiporã, ao Pico Olho d´Água, antes ou depois, já não me lembro, de um delicioso almoço no O Velhão.
Ao sairmos do restaurente e nos dividirmos para ocuparmos os carros, ouvimos um miadinho, débil mas desesperado e nos pusemos a procurar.
Não tardou a encontrarmos um filhotinho de gato, preso entre alguns tijolos que alguém caprichosamente ajeitou em um canto, no meio do nada e, no entanto, no meio de muita gente diferente que pararia o carro por ali. Boa má intenção.
Comoveu-nos. Alguns amantes de felinos e outros amantes de caninos, mas todos a favor da vida.
Na época eu já tinha um casal, Juca e Jaqueline, e uma nova adoção, com a chegada de um bebê alteraria muito a dinâmica da casa.
Uma amiga querida, apesar de dona amorosa de uma linda Dálmata, não pode deixar para trás aquele bichinho e nos organizamos para ajeitá-lo em um dos carros.
Foi tratado, alimentado, vacinado, vermifugado e reinou absoluto em seu amor silencioso.
Em seu amor que reconhece tudo e nem por isso precisa sorrir o tempo todo.
Gatos são filósofos por natureza. Nos ensinam coisas que muitas vezes nem nos damos conta de que aprendemos.
E agora, depois de tanto tempo, recebemos uma foto de Theodoro.
De São Paulo mudou-se para Santander, na Espanha, onde vive até hoje, refestelado como podem ver. E, certamente, carrega e carregará para sempre, em todas as suas vidas, a generosidade de quem mudou o seu destino.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Histórias que me impressionam

Li na Marie Claire que por conta de uma reportagem da revista uma garota sequestrada foi devolvida as pais.
Li agora que a moça já tem quase vinte anos, já tem um filho e isso aconteceu quando ela tinha quatro anos e foi devolvida aos sete e pouco.
Narrar sem detalhes, seco como o chão do agreste nordestino. A menina estava na igreja evangélica com os pais. Eles estavam de olhos fechados, orando. Ela queria ir ao banheiro.
O irmão viu quando uma moça se ofereceu para levá-la ao banheiro e nunca mais a trouxe de volta.
Os pais de olhos fechados, orando, não viram nada.
Depois do banheiro, vamos tomar um lanche, não quero, vamos e foram por muitos anos.
A primeira idéia da moça era vender a menina para o dono da boate onde trabalhava, ele a revenderia para alguém do estrangeiro.
Não deu certo. Sem detalhes, não sei se pela idade, se ela não teve coragem, não sei.
Ficou zanzando com a menina e lhe ocorreu dizer a um antigo namorado que sua filha.
Comprou-lhe roupas e uma bicicleta. Levava para passear, quase um ano depois quis um exame de dna e ela de novo desapareceu.
A menina, outro nome, a primeira vez que contou a uma outra mulher estranha que não seu nome, que não sua mãe, apanhou muito e calou a verdade.
Abrigadas na favela. Uma outra mulher da favela viu a história na revista. Foi na polícia.
A polícia foi investigar. O marido dono do barraco desconversou mas conversou com a mulher e a mulher insistiu com a menina. Com medo mas confirmou a história.
De volta à polícia. A mulher da pensão anterior, até fita gravada de festinha de aniversário e lá a moça e a menina.
A menina roubada, a moça ladra.
A menina de volta a casa dos pais.
Tudo que era da menina dado embora aos prantos depois de anos, mas quando o pai foi comprar colchão novo para a família levou um colchão para a filha desaparecida.
Hoje guardada, resguardada. Aperta o filho, tem medo.
Mulher estranha no ônibus: menino bonito! E a mãe agarrada ao moleque desce no primeiro ponto. Não era ali que ia descer, mas tem medo de mulher estranha.
Será que ainda fecham os olhos para orar? Isso não estava escrito na matéria da revista.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Por dentro do trânsito!

Se lá estou e nada posso fazer para sair, por que não me divertir com observações?

1 - Quando pensamos em Atibaia, pensamos em final de semana, lugar agradável, clima gostoso e gente bonita, pois é de lá o carrinho mais velho e feio que vai ao meu lado, um pouco a frente, um Fusca, que já deve ter tido os seus dias de glória.

2 - O Audi novo, preto reluzente, exibe o adesivo da Apple, sinais de cara up to date, bom poder aquisitivo, mas, fumante (até aí nenhum problema...) que joga a bituca e cospe o chiclete pela janela!

3 - É de Paulínia o caminhão preto, bonito, adesivado na frente com Coca-Cola zero e a carroceria, romeu e julieta, estampa uma propaganda. Fantástica a idéia de usá-los para isso e a mensagem é: não, não é miragem, nem é de graça, para uma lata de Sprit zero encostada em um coqueiro. Mas está tão sujo que consigo reproduzir porque vejo muito, muitas vezes.

4 - Pela primeira vez vejo um carro, um Renault Clio preto, com placa 001 - Poder Executivo, Presidência, se comportando como um outro carro qualquer, dando seta, esperando a vez, sem abusar de sua placa poderosa...

5 - O carro mais bonito é uma Ford Rural nem sei dizer que ano, mas linda, reluzente, branca e verde, carregada de plantas e flores, com uma mulher de meia idade, bonita, ao volante. Deve ser paisagista ou ter uma floricultura. E deve ser boa gente.

6 - O carro que me faz pensar em tudo isso é um utilitário que não vejo marca nem cor, todo adesivado e chamando: venha passear de balão. Quero ir!?!!!

7 - A frase do dia: sangue em veia de maluco não corre, tira racha. Deve ser um eleitor do Lula.

E, por fim, os japoneses de Osasco e os empertigados de Barueri seguem sua luta ferrenha para ver quem será, no fim, o rei das lambanças no trânsito caótico da cidade feia mais linda do mundo.
E, com tudo, apesar de tudo, por tudo, eu cheguei feliz!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Adeus dona Nadir

Não é surpresa para ninguém que sou uma apaixonada pelo rádio.
Talvez seja surpresa que eu goste muito de ouvir programas esportivos e que toda noite, após o trabalho vou embora, sozinha no meu carro, mas muito bem acompanhada, ouvindo a CBN.
Nunca se está sozinho quando se ouve rádio. É difícil explicar e esse não é o tema.
O tema é a dona Nadir que faleceu e foi cremada ontem.
Nunca contamos uma história só. Para chegar na história da dona Nadir tive que passar pela minha história e vou ter que me intrometer na história do Juca Kfouri. Mas a história é tão bonita que acho que ele não vai se importar. E nem será novidade porque ele mesmo já contou essa história no livro Anedotário do Rádio Brasileiro, e mencionou isso no programa CBN Esporte Clube (Futebol é Cultura!), das 20h00 as 21h00. Santo congestionamento!
Pois bem, voltemos a dona Nadir.
Depois da estréia do CBN Esporte Clube, quando Juca chegou para o segundo programa, havia um recado da dona Nadir, que dizia mais ou menos assim: fala para aquele menino que ele precisa dizer as horas, rádio é prestação de serviços e se não fala as horas eu perco a hora de tomar o meu remédio.
Atento ao comentário, em uma das primeiras chamadas para o Repórter CBN, que entra a cada meia hora, lembrou-se de dizer: 8h30, tá na hora do seu remédio dona Nadir! Assim, do nada, um caco, como diriam no teatro. E, pela reação que percebeu no estúdio, achou que seria um bordão, que iria funcionar!
No dia seguinte, ao chegar para o terceiro programa, outro recado de dona Nadir: que gentil aquele menino, além de falar as horas falou até o meu nome! Se ele quiser falar comigo, o meu telefone é...
E Juca ligou. E soube que ela não era exatamente uma apaixonata por esportes, mas sim pela rádio CBN que ouvia desde manhãzinha até a hora de se deitar, e que tomava muitos remédios e que por isso saber as horas era muito importante.
Juca seguiu chamando as horas e alertando a dona Nadir. Ontem nos contou que ela se foi e eu, que jamais soube nada sobre a dona Nadir, além do que acabo de contar, fiquei triste, muito triste, como quem perde uma grande amiga.
Juca vai continuar usando o bordão em homenagem a dona Nadir e não importa quais ondas ela ouve agora, achei que também eu deveria homenagear a dona Nadir, já que como ela sou uma apaixonada por rádio e por futebol. E aí, nesse quesito, levo vantagem, porque aguento melhor Juca, Birner, Leandro, Marcelo Gomes, Deva, Renato Maurício, que muitas vezes merecem ir pro chuveiro, mas em muitas outras merecem o Troféu Osmar Santos.
Adeus dona Nadir!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quando nossa história parece...

lenda urbana!
Assim como a vida imita a arte e a arte imita a vida, as lendas urbanas também se retroalimentam.
Tenho uma amiga que vive no Rio de Janeiro há muitos anos, lá trabalha, lá teve seus dois lindos filhos, lá segue a sua vida abençoada em um delicioso apartamento em Botafogo.
Mas carrega dentro de si o sabor de ter crescido ali pelos lados de São Roque, interior de São Paulo.
Uma vez, em visita a casa materna, trouxe amigos do Rio de Janeiro e entre eles, a caçulinha de um casal, com quase 4 anos, encantada com a viagem.
Beijos, abraços, apresentações, xixi, água, bagagens...
E, de repente, a caçulinha com seu sotaque charmoso de carioquinha da gema pergunta:
- mãe, que lingua eles estão falando, eu tô entendendo tudo?

E o mesmo passou comigo e com minha amiga Mariza, falando qualquer coisa em um ônibus em Recife. Sempre lotados, nós sempre em pé e sendo usadas como apoio pelas mulheres mais baixas (sim, existem mulheres mais baixas que eu!) porque não alcançam naquele cano lá em cima e vamos de tro lo ló, até que uma adolescente entre encabulada e sorridente pergunta:
- de que país vocês são? entendo quase tudo o que tão dizendo...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Não me livro de certos preconceitos

Por mais que eu tente me afastar de pensamentos que deixam a cena cinza, eu não consigo.
Já escrevi em outra ocasião que a beleza da mocinha que faz a minha unha é uma beleza tímida, sempre encolhida sob sua postura ingrata durante o trabalho.
Mas tem um riso largo, um humor delicado e uma postura tão tranquila diante da vida.
Não tem mais do que dezoito anos e as vezes comenta: é, quando fiquei grávida, tive medo do meu pai, mas ele me surpreendeu, me tratou tão bem! e minha filha já vai fazer dois anos...

Em outra ocasião: fui fazer um curso e não sabia direito como voltar pra casa, à noite, peguei ônibus errado, o crédito do celular acabou, não consegui falar com minha mãe, minha avó me salvou, foi me buscar na Faria Lima, nem tinha mais ônibus, passava da meia noite, meu marido estava desesperado...

Ainda é tão da primeira familia que avó, mãe, pai, sempre vem primeiro que o marido... É uma criança!

E onde entra o preconceito?
Dia desses me disse: bom, agora vou fazer vestibular, preciso entrar na faculdade, queria fazer estética, algo assim, mas só tem em Santos, não dá, preciso estudar de manhã porque trabalharei a tarde e a noite e então, vou fazer Engenharia Civil

Eu e minha arrogância, eu e meu medo, eu e minha descrença quase caímos das pernas.
Engenharia civil?
Arrogância: por que não?
Medo: os números me assustam, me espreitam eu quero sempre transformá-los em palavras, mas há pessoas que se dão muito bem com eles, e graças a deus elas existem, assim sobrevivo!
Descrença: será que ela passa no vestibular?

Sim, passou no vestibular e hoje foi o seu primeiro dia de aula.
Ela nem imagina o quanto eu estou orgulhosa. Da sua coragem, da sua confiança, da sua fé no futuro, do seu jeito simples de encarar a vida.
Tão simples. É, serei mais enfática ao demonstrar minha alegria na próxima semana, quando eu me encontrar com ela, animada para saber como foi a primeira semana!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A irrelevância das desilusões

A primeira coisa que pensou foi em se matar!
Uma overdose de remédios, um trem, entrar no mar e andar até ser engolida, dirigir em alta velocidade e ler pela última vez dirigido por mim, guiado por deus e depois, achou que era demais!
Abandonou a ideia e pensou em mudar-se de cidade.
Casa nova, emprego novo, cortaria o cabelo, levaria o mínimo de roupa e compraria tudo novo, pintaria as unhas de vermelho, que sempre apenas com base, rosinha, branquinho, monótonas unhas.
Não tinha capital para empreender tal jornada.
Mudar de emprego. Trabalhar quietinha entregando tudo e ao mesmo tempo distribuindo CVs, consultando amigos, lendo os classificados nos jornais.
E mudar de apartamento. Procurar um menor, mais ensolarado, prédio baixo mesmo que sem elevador.
E mudar de religião.
Nascera e fora batizada. Depois foi preciso fazer a Primeira Comunhão, foi crismada e, cismada como era, resolveu ponderar melhor essa ideia.
Padres e pastores, homens e mulheres, rituais diferentes, crenças diferentes, infinitas possibilidades.
E, sem custo algum!
De tudo o que pensara era a única coisa que poderia fazer já, imediatamente, sem por a mão no bolso.
Não ia discutir agora pagamentos de dízimo, jogadores milionários doando fortunas, não, nesse primeiro momento não lhe custaria nada.
Faria assim, tomaria um ônibus e ouviria as músicas do seu mp3, setado para misturar todas elas e quando ouvisse a música X, que ainda pensaria qual seria, desceria do ônibus e caminharia pelas redondezas. O primeiro templo religioso que encontrasse seria a sua escolha. Não importasse fosse uma igreja católica, evangélica, um terreiro de umbanda, um centro espírita, nada, nada ficaria de fora.
É, esse seria o seu programa no final de semana. Decidiria sua próxima religião, sem remorsos por abandonar suas tradições, pronta para qualquer experiência nova!
- senhorita, o seu lanche!
Será que cartomantes também são uma espécie de pastoras, leitura de cartas é uma espécie de religião?
- senhorita, ô moça! o seu lanche tá pronto!
O barulho ensurdecedor da lanchonete. Será que na internet tem endereço de cartomantes?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dinorah

Uma morena bonita, mas assombrada por seu monstro interno.
Um monstro que se alimenta de suas memórias.
Por que não disse que não quando de verdade não tinha vontade de ir àquele jantar?
Ficou quieta quando lhe disseram que não servia mais, que já não tinha perfil para aquele projeto.
Calada, encolhida em um canto, deixava que outras crianças usufruissem dos seus brinquedos.
Quando o pai foi embora, sequer um beijo lhe deu. Era culpada?
A mãe chorando a empurrou com o braço. Enfiou-se debaixo das cobertas e ninguém se deu conta de que dormira sem jantar, sem tomar banho, sem escovar os dentes.
Farto alimento para seu monstro que crescia enquanto ela ficava pequenina para lhe dar mais espaço.
Uma vez ou outra sacudiu bruscamente o pensamento e por um minuto sentiu o sol aquecer seus ombros erguidos.
Mas lembrou-se de que fazia um dia assim, quente, quando ele foi embora meio rindo, meio incrédulo, depois de perguntar: você achou mesmo que eu ficaria nessa cidade?
Dinorah já não podia mais com esse monstro, mas não conseguia impedir que se alimentasse de todas as suas lembranças ruins.
Acaso não tinha boas lembranças para quebrar essa rotina?
Não foi alegre o seu primeiro natal?
A sua primeira bicicleta vermelha, de três rodas?
E quando pode viajar sozinha para a casa da vó que morava tão longe, lá no nordeste?
E o primeiro beijo.
A primeira vez que comprou suas próprias roupas, sapatos.
Acaso não eram boas lembranças? Duravam tão pouco tempo.
Tomou o chá que já estava esfriando. Ajeitou a manta sobre os joelhos. Trocou a revista semanal pelo romance que estava lendo.
Era uma morena bonita, mas a sombra por trás do abajur já desenhava o monstro voltando a abocanhar seu abandono na noite fria.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Antonio Lobo - Ontem não te vi em...

Babilônia.
Quando li esse titulo na resenha já quis ler o livro só pelo título.
Depois o autor. Outro português e para mim que gosto de Saramago é sempre um desafio ler os conterrâneos.
Anotei o nome na minha lista.
Tenho uma lista no celular, uma lista no excel com os livros que quero ler.
Nome, autor, resenha, preço, editora, etc.
Quando quiser me dar um presente e não tiver idéia do quê, não se acanhe, me peça uma dica de livro. Há de vários preços e tamanhos e posso adequar ao seu budget.
Tenho na minha cabeceira 5 livros esperando a sua vez. Pela ordem em que serão lidos depois de Ontem não te vi em Babilônia. Que esperava pacientemente por mim na livraria, em uma tarde de sábado qualquer.
Mas Antonio Lobo não é para amadores. Os seus personagens insones me tiram o sono e fazem de mim uma pessoa esquisita também nesse quesito: a maioria lê para ficar com sono, eu leio e fico tão desperta que passaria muitas horas mais não fosse o meu despertador perscrutando minhas intenções e minha manhã de reclamações!
Preciso ir a Évora uma vez mais, mesmo que eu não te veja em Babilônia nunca mais!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Estou ficando sem respostas

Chego em casa depois de um dia atribulado no trabalho, mais de 60 kms de chão, auxiliar doméstica de licença médica, mas... tento por um sorriso no rosto para falar com as meninas.
Não é fácil. Sou pouco paciente, quero falar coisas de adulto, estou de tpm, mas me esforço.
Em dado momento, ouvindo como foi o dia, extensão de férias não programadas, games, passeios com o cachorro, amigos, histórias da gata nova.
Preciso interferir para orientar uma atitute e tomo a palavra.

Quando termino, minha primogênita me diz:

- sabe, eu aprendi a deixar os adultos no vácuo...

Evito rir e pergunto: e o que significa isso?

- ah, eu sorrio, escuto, concordo com tudo e saio andando

Bom, já é tarde, hora de ir para cama!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O velho Nicolino se foi

Há onze anos. Mas nunca me convencerei disso.
Era um cara legal o meu pai. Ele jamais compraria uma editora para eu publicar meus livros, já que sonho ser escritora. Tão pouco compraria uma agência para eu ser a criativa, a midia, o atendimento, a dona.
Não, ele não.
Ele me ensinou que é preciso estudar, refinar o talento que se descubra, persistir, torcer, cair, levantar e seguir em frente.
Estar entre os bons, sempre, e ter metas altas. Se o amigo tirou 7 na prova esse não é o parâmetro, aquele que tira 10 sim e para alcançá-lo é preciso tirar 10 com louvor.
É, ele não era amigo de Nelson Piquet...
Tenho saudades dos seus olhos azuis. Das suas piadas, sempre as mesmas.
Das histórias da fazenda.
Das pegadinhas, muitas eu ja sabia a resposta mas fingia que não sabia. E ele sabia que era só pra agradar, ah... eu era muito esperta pra não saber aquela bobagem!
Um acordo tácito.
Um balde de pipocas, um jogo do palmeiras, um chinelo havaianas e uma camiseta confortável.
Para sempre meus dias serão sem o velho Nicolino, mas ele está em mim.
Está nos olhos azuis e na curiosidade da minha irmã mais velha, na generosidade da minha segunda irmã, no caráter do meu irmão, no amor da minha irmã caçula, em comunhão com a minha mãe, que nos abençõa com seus olhos verdes.
Pai, será que o Muricy vai dar conta do nosso time? Eu não vou muito com a cara dele mas espero que ele se dê bem!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Parada de ônibus

Não conseguia explicar o prazer que a leitura lhe dava.
E não conseguia explicar a ira que o invadia quando algo qualquer dava errado.
Tão simples. Tão complicado. Tão inútil tentar explicar. Mas tão difícil conviver com a dualidade.
Guardava na memória trechos de livros.
Alguns filmes também, mas o cinema apesar de apaixonante sempre exercera uma força mais tênue.
Histórias de filmes pareciam névoa, enquanto histórias de livros sempre vieram carregadas de cor, não importando se de amor, de dor, engraçadas, infantis, realismo fantástico.
Sim, realismo fantástico parecia a sua existência.
Seus vários humores escapando nos momentos mais impróprios.
Como fixar uma imagem?
Viu um espetáculo de dança em que tentáculos gerenciavam todo o movimento.
Polvo, aranha, centopeia, bichos de muitas pernas e poucas palavras.
Despertou aflito, o ônibus já estava parado em seu ponto, pessoas desciam e ele estava muito enroscado em pernas e pés e braços e bolsas:
- com licença, eu também vou descer!