quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Empáfia

Todos nos arvoramos de nossos conhecimentos, de nossas convicções.
No mundo corporativo então, esse comportamento extrapola os limites da insanidade.
E, em alguns casos, a pesquisa de mercado, os estudos estratégicos, ajudam a minimizar a pessoalidade e as defesas de teses.
Nem todos entendem a dimensão de um simples estudo e tampouco acreditam que pode haver mudanças no comportamento pessoal.
Mas é melhor exemplificar. Uma vez gerenciei um estudo para avaliação de embalagens para produtos veterinários.
No Brasil e na Argentina.
O escritório de design subestimava o conhecimento, o comportamento do cliente, a empresa, que por sua vez, fazia caras e bocas para o entendimento do instituto de pesquisa de mercado que, por ter sua relação direta com o consumidor, ou seja, uma relação nada corporativa, em nenhum momento subestimou o conhecimento, a preferência, o entendimento daquele que efetivamente ia comprar o produto ou decidir pela compra do mesmo.
O escritório de design desenvolvou 3 linhas diferentes e já preconizou: a mais colorida no Brasil, que é um país alegre, divertido e a mais séria, a mais cinza, na Argentina, onde os consumidores são mais formais, leem mais, tem grau de instrução mais elevado e essa intermediária só para não ficar nem lá nem cá. Nem 8 nem 80. E é isso.
O cliente (a entidade! normalmente composta por diretores e gerentes de marketing, gerentes de produto, de comunicação...) olhou, alguns gostaram, outros não, uns aceitaram a tese do perfil, outros não e então entramos nós com o estudo, não achando uma coisa nem outra.
Pois o que se viu foi exatamente o oposto!
Na Argentina a embalagem mais colorida chamaria mais atenção, seria mais fácil de ser identificada, era mais bonita, mais alegre, já que a finalidade era tão séria podia se aliviar com essa carga de cores.
Para os brasileiros, um assunto tão sério não deve ser tratado assim, com um carnaval de cores, embalagem chamativa é para outro tipo de produto, brinquedos, produtos alimentícios infantis, não um produto veterinário que deve ser mantido em segurança, trazer informações técnicas.
Foi muito fácil recomendar a terceira opção, feita quase que por acaso, só para ter um caminho a mais, mostrar trabalho, empenho. Óbvio que há que ter algum ganho de escala, de reconhecimento de marca e que as informações podem estar em português/espanhol otimizando a produção.
Engraçado foi observar, após a apresentação, como cada um dos envolvidos recolhia seus computadores pessoais, seus papéis, sua arrogância, suas certezas, desconfortáveis com o fato de defender antes de entender.
Já lá se vão muitos anos, mas muito pouco mudou.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Luz na Estrada

Não gosto de dirigir na cidade. Não gosto dos cruzamentos, dos faróis, dos apressados e dos nem tanto. Dos que não deixam ninguém entrar e daquele que resolve deixar todo mundo entrar na frente dele quando estamos bem atrás e com muita pressa.
Não gosto das rotatórias. Não gosto de nada.
Mas adoro dirigir na estrada.
Viajava muito com meu pai e ainda muito pequena já sabia o significado de todas as placas.
Diversão pura. Eu me sentia orgulhosa quando me lembrava das mais esquisitas e sem lógica. Elas existem.
E também o significado das linhas ora contínuas ora picotadas.
E quando viajávamos em família eu sempre apontava um erro grosseiro:
- vê essa placa? diz que faltam 10 quilômetros para entrarmos sentido Parapuã mas não está certo, faltam 12 quilômetros, já marcamos!
E todo mundo já sabia, mas todo mundo se admirava!
Mas me lembro mesmo do grande susto que tomei em minha primeira viagem noturna.
Não podia acreditar que a pista não era iluminada como as ruas na cidade.
Fiquei perplexa e meu pai apenas disse:
- é, na estrada, somos nós que devemos iluminar o caminho, e se ele não for bem iluminado pode dar problema porque podemos não enxergar o que está muito próximo... um animal no acostamento por exemplo...

Ele falava da estrada. Não tive tempo de dizer que compreendo além das laterais e que, de fato, somos nós os responsáveis por iluminar o nosso caminho. É, na estrada, nós somos a nossa própria luz!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

7 anos de Valentina

Sábado que não se sabia de sol ou chuva, levantar cedo para percorrer um trajeto não muito longo. Sábado de conhecer minha caçula, que chegaria com hora quase marcada, no São Luiz. Uma espiada na primogênita que dormia, uma espiada no outro quarto prontinho para receber a única coisa que ainda faltava: um ponto de luz!
Dia de receber Valentina. Expectativa, alegria, medo, uma mistura de tudo. Uma balada no caminho. Quem poderia prever que as 6 horas da manhã ficariamos engarrafados na Funchal?
Muita gente, mas não eu com atenção toda voltada para a despedida do meu barrigão e chegada...
- alô, Ana? Ah não poderemos ir ao aniversário da sua pequena, é que a minha pequena acabou de nascer...
- e você está me ligando?
Por que não?
Minha boneca de porcelana já tomada banho animou os corredores da maternidade.
Nunca se viu bebê com tanto cabelo! Olha só quantos cachos nesse cabelo cor de ouro!
Ganhou um palhaço saindo de uma caixa surpresa, muitas flores e um lindo pequeno sol que podia ficar no seu bercinho.
A primeira mamada gulosa e a enfermeira admirada:
- sabe mãe, pego neném há 20 anos e nunca, nunquinha vi um bebê nascer com a cara da mãe!
Olhos cheios de lágrimas. Indisfarçável vontade de apertar e mostrar ao mundo meu tesouro.
Irmãzinha, papai, vovó, amigos e olhos distantes daqueles que não puderam ver abençoaram o meu bebê que insiste em crescer sem parar e lá se vão 7 anos de história para contar.
De meiguice, de um jeito único de ser, de olhar enviesado que sabe o momento certo de me conquistar:
- manta, eu te amo!
Meu Deus, há que proteger.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

As datas se misturam aos nomes

Roquete, o Príncipe Feio é uma história singela que povoou a minha infância.
Estava em um conjunto de 3 livrinhos encantadores, com historinhas de fadas e que tais e eram de capa dura!
Um vermelho, um amarelo e um azul.
Hoje 25 de setembro é uma data importante, gosto do número 25, gosto do mês de setembro e isso para mim basta para considerar importante um dia qualquer, mais um, absolutamente encaixado na minha rotina.
Mas de manhã descobri uma coisa nova.
E nada me deixa mais feliz do que aprender alguma coisa, qualquer coisa.
Hoje, dia 25 de setembro, é o Dia do Rádio.
Eu adoro rádio, já contei causos de meu envolvimento com essa entidade e meu sonho é trabalhar no Rádio. Eu poderia trabalhar na produção, no marketing, apresentando programas. Não sei ainda como convencê-los a me contratar.
Eu deveria ter feito jornalismo. Tá bom que agora não precisa mais mas ainda assim, começar do nada. Tenho uma priminha que trabalha no rádio, outro dia ela entrou direto de Nova Iorque, um orgulho! O sobrenome dela é Letra e muita gente que conheço e que a conhece de ouvir pensou que fosse um sobrenome artístico. Mas não é, é também o meu sobrenome por parte de mãe, infelizmente não documentado no meu registro.
Mas voltando às datas que se misturam com os nomes, o dia do rádio foi instituído em 25 de setembro em homenagem a Roquete Pinto (RJ, 25/09/1884 + 18/10/1954), médico legista, professor, antropólogo, etnólogo e ensaísta, o homem que trouxe o rádio para o Brasil.
Certamente não é esse o príncipe Roquete da minha infância, mas como aquele fez diferença na minha vida com essa coisa do rádio.
Eu não sabia, mas aprendi hoje de manhã, na CBN, com Mílton Jung. Minha manhã ficou mais alegre.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

João Correia

Eu fui a João Correia, na Bahia, de ônibus.
Ainda não tinha 20 anos e tinha muita, muita curiosidade.
Uma amiga comentou que parentes do pai viviam nessa cidade e que logo após o Natal ela iria até lá visitá-los. De ônibus.
E eu, uau, que legal! Onde será que minha cabeça ficava posicionada naquele momento? Eu devia ter um design bem diferenciado, mas enfim, voltemos aos fatos e deixemos o juizo de valor em paz.
Diante de tal interesse ela me convidou para ir e eu topei.

O mais feliz de toda essa história foi o pai dela. Um senhor bem humilde que ficou encantado ao saber que a filha teria companhia para tão longa viagem. Afinal, ela iria para visitar parentes dele, viagem que ele gostaria de fazer mas que por problemas de saúde era impossível ficar tanto tempo sentado em um ônibus e que, por problemas de dinheiro, não poderia fazer o trajeto de avião.
Logo depois de passar o Natal em Presidente Prudente com meus pais, comendo, ouvindo as mesmas histórias de sempre, aninhada no carinho eterno da familia, arrumei minha mochila, escolhi um jeans velho, uma camiseta idem, um all star confortável e rumamos para Vitória da Conquista.
É realmente uma conquista chegar naquele lugar.
E, uma aventura chegar a João Correia.
Na rodoviária de Vitória da Conquista chegavam vários ônibus vindos do Sul, como eles diziam, e todos que ali desembarcavam e precisavam chegar em outros lugares e lugarejos, se acomodavam em um único outro velho veículo.
Dá para imaginar a superlotação.
As pessoas mais descoladas com a baldeação, atentas, marcavam seus lugares enfiando as bagagens pela janela.
Ficamos meio perdidas mas até que conseguimos sentar. Ser galega me garantiu um lugarzinho lá no fundo do ônibus.
Antes de lá chegar, consultei o motorista:
- moço esse ônibus passa em João Correia?
- como?
- João Correia
E ele, que podia perder a passageira mas não a piada...
- não tô perguntando o nome do seu namorado, tô perguntando o nome da cidade que você quer ir...
Curva pra cá curva pra lá chegamos. Um lugar difícil de descrever, entre bucólico e desolador, seco, desbotado de tanto calor, mas é um quadro interessante para compor em outro momento de memórias da juventude.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Do que eu gosto em New York

Da loja do M&M na Broadway.
Das lojas de pipoca. Apesar das pipocas não estarem quentinhas e saltitantes saber que em uma esquina qualquer posso entrar e comprar pipocas me emociona.
É apenas conforto psicológico. Saber que há pipoca esperando por mim.
E gosto de caminhar sem me cansar. E de caminhar muito.
Gosto de comprar coisinhas na lojinha do MOMA.
E gosto de chegar bem na hora em que a FAO Schwarz‎ (loja de brinquedos com esse nome sim senhor) abre as portas estendendo seu tapete vermelho, com seus funcionários recebendo as criancinhas tão encantadas com tudo de bonito!
E gosto ainda mais da Toys R Us com sua roda gigante e seu dinossauro que impressiona uns e assusta outros.
Gosto da loja da Virgin, de comprar camisetas com desenhos japoneses, como se elas fossem combinar com alguma coisa mais da minha vida além de um sábado ensolarado, no condomínio, em passeio com crianças e cachorro.
E tenho paura das lojas de presentes. Aquelas lembranças medonhas de chaveiros, canecas, estátuas da liberdade e as camisetas que se fossem de mangas compridas nos agarrariam para não nos deixar ir embora. Elas exibem com agressividade um coração entre o I NY. Tenho medo delas.
E não direi nada, quase absolutamente nada sobre os americanos, a não ser que, o que mais se ouve, é uma sucessão de thank you! Dizem de maneira mecânica, sem pensar no que realmente significa, até um pouco mais do que sorry, tenho a impressão de que são programados através de um chip instalado em um lugar qualquer e que a cada contato, físico, visual, mental, antes de emitir qualquer som, um thank you toma lugar.
Parece a Dolby Digital testanto o som antes do filme começar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Com carro sem carro, com Gordine sem Gordine

Dia de deixar o carro em casa. Se eu deixar também tenho que ficar porque não tenho como chegar no trabalho.
Até tenho, não sejamos ortodoxos. Mas vejamos, teria que tomar um ônibus e ir até um ponto de uma avenida e esperar por outro ônibus para chegar até São Paulo.
Andaria muitos, mas muitos metros mesmo (táxi não vale, é carro) até encontrar uma estação de trem e voilà chegaria ao escritório. Umas quatro ou cinco horas depois de ter pego o primeiro ônibus.
Poderia vir de bicicleta ou a pé, mas se considerarmos que estou a 66 km é melhor rever as opções.
E com a chuva de hoje podemos dizer que é realmente o dia sem carro, mas o dia do barco.
Quando eu era criança dizia a meu pai que quando crescesse teria um Gordine.
Por mais que ele me explicasse que os modelos mudam, que os carros tem lançamentos anuais, com novidades, com avanços tecnológicos, e etc, etc, eu não acreditava nele.
Eu pensava apenas que ele não queria que eu tivesse um Gordine porque tinha medo de que eu dirigisse mal e sofresse um acidente.
Quando ele terminava eu dizia, então um Decave!
Às vezes ele desistia, às vezes recomeçava paciente.
Eu não tenho um Gordine nem um Decave. Eles ainda existem. Meu pai também não está mais por aqui para revermos o nosso diálogo sobre carros.
E todo mundo já está fazendo contas pensando mas quantos anos essa pessoa tem? Que carros são esses?
Melhor parar por aqui e viva o dia sem carro, numa cidade como São Paulo soa como piada.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Antes da internet e de suas atualizações

Conheci uma mulher que fez diferença na minha vida.
Enxergou em mim um lado business e me fez ver que eu poderia ser feliz trabalhando em algum assunto que não fosse teatro, dança.
Acho que eu nunca disse isso a ela e agora já não posso mais, mas contar uma parte de nossa história pode ajudar.
Algumas pessoas carregam, além da alma, uma definição dada por outrem: preto, japonês, mulato, branquelo, sardendo, gay, mulher, judeu e por aí vai.
Ela carregava duas dessas palavras mas de forma tão leve, tão bem humorada, que foi uma lição e para sempre será.
Quando sorria suas bochechas formavam covinhas. Em uma mulher já grisalha, era divertido.
Mas, voltando à história da precariedade das atualizações antes da internet, vamos ao expediente usado por nossa personagem.

Estávamos trabalhando, concentradas em questionários, desenhos de amostras, sorteio de quarteirões, escala de equipes, cotas, e ela, dona de tudo, inclusive de seu tempo, passando uma agenda de telefones a limpo.
Anotando cuidadosamente nomes, telefones e endereços.
Ora perguntando a um ora perguntando a outro sobre fulano e beltrano.
Em dado momento, pegou o telefone, discou um número e disparou:

- ah, alô, por favor, fale-me um pouco de você, tenho seu nome e telefone na minha agenda, mas realmente não consigo me lembrar

e depois de um tempo

- ah, que ótimo, e você está bem?

Em tempos atuais essa conversa jamais teria existido. Os dados seriam passados de um chip a outro, sincronizados com os computadores, atualizados automaticamente pelos modernos sistemas que não nos deixam anônimos de maneira alguma!
Em tempos de trotes sobre sequestros relâmpagos essa conversa jamais teria existido. Ninguém responderia tal tipo de abordagem!

Ficamos olhando, ouvindo o telefonema nada particular, rindo, uma verdadeira cena, comédia de costumes, crônicas de uma cidade, de uma cumplicidade e de uma simplicidade que não se recupera mais.
Obrigada Ruth.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uma carta

Um dia desses vou escrever uma carta para você.
Uma carta de antigamente. Com papel coloridinho, quiçá com algum desenho, quiçá com cheiro de alguma fruta silvestre.
Vou escrever a tinta ou à tinta (ambos se admitem, pois se trata de uma expressão adverbial feminina de meio ou instrumento...). Não ensinam mais na escola que não se diz vou escrever a caneta?
Bom, deixa pra lá, já não ensinam tanta coisa!
Tenho um dó quando ouço: me dá uma dó...
Mas não estou aqui pra isso, porque também eu devo cometer pequenos pecados com nossa preciosa língua.
Mas um dia desses vou escrever uma carta para você.
Para dizer que estou bem, que estou envelhecendo como nunca acreditei.
Para dizer que duvidei que tivesse crianças, do fundo do coração sempre quis mas duvidando que receberia esse presente e recebi, tenho duas meninas inteligentes e saudáveis e como bônus ainda são lindas.
Vou escrever para te contar que tenho um emprego em uma agência de publicidade.
Pode acreditar? O teatro e a dança hoje são X nas pesquisas que respondo no tópico lazer.
Um dia desses eu vou escrever uma carta para você.
Preciso contar que meu pai se foi, que aquele bebezinho cresceu, que depois de tudo eu tive um casal de gatos Juca e Jaqueline e que fiquei muito, mas muito tempo sem escrever.
Talvez por isso a falta de jeito. Mas, um dia desses, eu vou escrever uma carta para você.
Eu só preciso me preparar para, antes mesmo de terminar, me conformar sobre o fato de que você nunca irá responder!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Pesquisa de Mercado - Estudos - Focus

Entendimento do consumidor.
Metodologias proprietárias. Tecnologias. Novas formas de coleta de dados.
Softwares sofisticados para consistência dos dados, análises.
Gráficos coloridos.
Novas tendências. Novas maneiras de entender o consumidor.
Filmagens. Compras guiadas. Cliente oculto.
Questionários online. Coocks para garantir critérios definidos.
Eventos. Congressos em Barcelona, na Cidade do México, em Buenos Aires.
Comitês técnicos.
Revisão do Critério Brasil. Posse de rádio ainda é fator de corte.
Tudo importante. Tudo sério. Conhecimento científico. Doutores.
Produtos foram lançados. Posicionamentos foram revistos. Peças publicitárias foram consagradas ou defenestradas.
E eu, que aprendi tudo isso, vivi também histórias do campo.
Prancheta na mão, tarde ensolarada, versão nova de sabonete ou sabão em pó já não sei.
Bairro da Saúde. Casa com aparecência de classe B ou C, mas não importa, dentro do giro horário do quarteirão.
Senhora japonesa dos seus cinquenta anos. Simpática na medida nipônica que alcançamos.
Disposta a ajudar, a responder. Até que...

- a senhora ou alguém de sua família trabalha ou conhece alguém que trabalhe com pesquisa de mercado?
- não

- a senhora ou alguém de sua família trabalha ou conhece alguém que trabalhe na televisão?
- ah sim, eu conhece Silvio Santos, conhece Hebe, conhece Gugu, eu conhece muita gente da "terevisão"

Isso é entender o consumidor. É manter o sorriso simpático. Fazer mais uma ou duas perguntas e encerrar a entrevista, mesmo sendo perfeita para fechar a cota.
E aí, um meu defeito, desses que não podem aparecer em entrevistas de emprego, me domina...
minha arrogância substima os valiosos trabalhadores desse campo e pergunta:
- quantos entrevistadores teriam, de fato, encerrado nesse momento?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em 1989, mil felicidades

É, eu sou do século passado e algumas lendas urbanas são verdades. É bom envelhecer, olhar sem viés, compreender.
Lá em 1989, eu fui de ônibus do Ipiranga até um ponto da Av. Paulista.
Era final de janeiro ou começo de fevereiro, já não lembro.
A noite estava agradável, o ônibus vazio, as luzes da cidade piscavam para mim, mas eu não estava interessada.
Sentei-me bem na frente, para olhar a paisagem desobrigada de prestar atenção e poder descer sem atropelos.
Na metade do trajeto um cara sentou-se ao meu lado.
Com tanto lugar para sentar-se veio ocupar-se de me tirar do sossego.
Pouco depois ele sacou o maço de cigarros e eu olhei de rabo de olho, e essa agora?
Vai fumar?
Pegou o papel de seda e começou a trabalhar no papel como quem faz crochet.
O rabo de olho já era um olho inteiro, e essa agora, vai preparar um cigarrinho?
Dois pontos mais e ele me entregou uma gaivota de origami, disse que me traria mil felicidades e desceu do ônibus.
Fiquei olhando para o papel dobrado. Tenho a gaivota até hoje.
Mais alguns pontos, alguns passos e eu chegava para o meu primeiro encontro com o meu amor.
Com quem ontem completei 19 anos de um casamento de verdade.
Eu ganhei mesmo mil felicidades, de um completo desconhecido, de quem desconfiei e quase mal disse.
Tudo, absolutamente tudo, pode estar agora mesmo ao seu lado.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Procuro um senhor

que pode já nem estar mais entre nós porque já aparentava bastante idade há 26 anos atrás, mas quem sabe?
Até hoje me assombra o fato de não ter conseguido me explicar, de tê-lo deixado escapar com uma imagem que absolutamente não era eu.
Quem se importa com o que pensam de você? Todo mundo eu diria. Alguém diria algo diferente?
E por que nos importamos?
Uns se importam com a aparência, outros com o jeito de ser, outros se importam com tudo que venha de quem nem importa muito, mas não se importam com quem deveriam se importar. Complexo? Não, é só pensar em um pré adolescente que se importa com o que pensam os amigos e não se importa com o que pensam os pais.
Mas aqui a história é outra.

Eu tinha 19 anos e descia a Av. Brigadeiro Luis Antonio com uma amiga e um amigo, íamos ao Teatro Ruth Escobar, ensaio de coreografia.
Na altura de um supermercado que ainda hoje lá está, logo depois da Paulista, eu contava a eles, estupefata, que tinha conversado com uma pessoa bem importante, bem informada, bem formada e que ela tinha cometido um erro de português atroz. Não me lembro exatamente qual foi o erro, mas era algo da categoria de menas.
Para minha infelicidade eu vinha dizendo: vocês acreditam que ele disse....? E reproduzi o erro.
Nesse exato momento, esse senhor que procuro nos ultrapassou, caminhando rápido, de terno escuro, alinhado, olhou para mim com um olhar severo emoldurado por cabelos brancos e foi enfático:
- não destrua o vernáculo!
Apressou o passo e perdeu-se no mar de gente que traçava o mesmo caminho e eu não consegui alcançá-lo para dizer que estava tão indignada quanto ele, que estava apenas repetindo um erro que ouvira por puro assombro!
Não logrei.
Aquele senhor ficou com a imagem de uma garota que destruía o cabelo, todo descolorido, muito, muito curto mas com longos fios trançados na nuca, que destruía um par de alpargatas bordando pontos desconexos, que destruía um casaco de fina gabardine pendurando alguns adereços... Mas que jamais destruiría o vernáculo! E isso ele não soube porque não estava espelhado, reproduzido, retratado, conceituado.
Quem se importa? Eu ainda me importo.
Procuro um senhor...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Há que se pensar

O vestido era amarelo ovo. O cabelo meio avermelhado, de uma cor impensável há alguns anos atrás.
O sapato era preto, mas não daquele preto brilhante, de um verniz que já não tinha mais.
No dedo, um anel de pedra verde discreta e um desejo secreto de levar no peito um coração vermelho. De plástico mesmo, mas grande, de toque macio, pra ficar brincando nas reuniões tediosas.
Mas vestida assim não ia para reunião nenhuma então, já não fazia falta o coração.
A bolsa era sem graça. Essa sim precisava ir para doação e ela esperava ser surpreendida por uma bolsa nova, maravilhosa, acenando para ela de uma vitrine qualquer.
Tudo tão colorido, tudo tão festivo, mas uma nevoazinha cobria o seu sorriso. Já não sabia como esconder, nem se queria esconder, se queria endurecer, se queria enfurecer, se queria esquecer, se queria retroceder, se queria amadurecer, se queria...
O vestido amarelo ovo balançava ao vento de final de inverno, começo de primavera, e decidira, essa cor não era mesmo pra ela. Mais uma peça para doação.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Aurora

Aurora, aquela lá? Não temia nada nem ninguém!
Arrogante para alguns, tímida até para outros, falante quando lhe convinha e quieta como as pedras que esperam crescer quando disso podia tirar proveito.
A Aurora não convidava ninguém para almoçar em sua casa, mas servia um cafezinho rápido, para trocar meia dúzia de palavras de maneira impecável. E o café? Uma delícia.
Aurora tinha ancas largas. Que para muitos até hoje significa mulher parideira, mas Aurora não se deu ao trabalho de parir ninguém.
Não, não ia se responsabilizar por um ser que seria seu compromisso para sempre.
Alegrias e tristezas? Isso é o resumo de filhos? Podia ter bichos de estimação que não usam fraldas, não vão à escola e podem ser deixados sós em casa sem que nenhum vizinho denuncie abandono de incapaz.
Mas nem isso Aurora tinha, não queria nada nem ninguém em seu caminho, em seu canto, em seu descanso.
Aurora, aquela lá? Hummm...
Era sempre assim que as conversas sobre ela começavam, mas impossível prever como terminavam tais conversas.
Amada por uns, detestada por outros.
Vista em missas de domingo.
Separando agasalhos para o caminhão da doação.
No mercado, carrinho cheio de suficiência, nada de luxo.
Um trabalho incomum. Recebia envelopes e mais envelopes com volumes de tamanhos diferentes e, sentada na janela que dava para o corredor sombreado por uma bonita árvore, óculos no nariz, rodeada por dicionários e tantos outros livros, fazia anotações sempre com canetas vermelhas naquela papelada toda.
De volta aos envelopes, alguém vinha buscar. Nem sempre o mesmo carro, nem sempre a mesma pessoa e, em algumas raras vezes, Aurora mesmo se enfiava em seu vestido florido, sandália marrom e seguia com o pacote embaixo do braço.
Desaparecia na esquina, mas podia ser vista no ponto de ônibus.
Aurora, aquela lá? Foi virando paisagem na vizinhança que foi organicamente se alterando, mudando, casando, morrendo, ignorando e hoje, deve ser um arrebol lá pelos lados da Aclimação.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dinamitaram a Serra de Quintana

Eu não fui uma criança fácil. Para os outros, para mim tudo acontecia como mágica.
Pena que a mágica se foi.
Eu tinha irmãs adolescentes, que tinham namorados e eu passeava com eles.
Não eram passeios inocentes, ir a sorveteria escolher um sabor.
Não, isso era para amadores.
Eu fui com minhas irmãs e seus pares à Serra de Quintana, hoje já dinamitada, sem qualquer razão que me convença do por que. E o que encontro na web sobre ela: ...foi a trinta e cinco anos atraz (sic) (serra de quintana, prox a Marilia)) uma luz no ceu que se...
Uma serra, morro, terra, mato, subir, se arranhar nos arbustos.
E lá estava eu. E em parte do caminho no colo do Zé, o namorado da minha irmã mais velha.
E não só eu. O Rodrigo também.
O Rodrigo era um bonecão de plástico que, naquela época, carregava para todo lado.
Ele só de calçãozinho vermelho, naquele sol!
O que havia em mim que orquestrava toda a situação de modo que todos os meus desejos se realizavam?
Nada.
Havia neles, nas minhas irmãs e irmão, um amor, um desprendimento, um carinho que não tenho idéia de como retribuir.
A mágica e o encantamento nunca estiveram em mim, estiveram sempre na bondade deles.
Eu sou uma pessoa de sorte, eu tive e tenho o privilégio de nascer entre os bons!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nove do Nove

Quando o dia começa de cabeça para baixo não importa a numerologia. Nove do nove de dois mil e nove e???
Os desprovidos de inteligência, os desprovidos de sabedoria, os desprovidos de humildade seguem sendo eles mesmos. Muitos como pedras em nosso caminho.
E nós? Somos desprovidos do quê na percepção dos outros?
Os outros são os outros e só, já cantou alguém.
Os outros de Lost já encantaram muitos.
E eu, eu estou entre eles mas não sou um deles.
Eu queria estar em um lugar bem longe de mim quando fico assim.
Eu queria passar e recomeçar.
Eu queria ignorar e superar.
Eu queria alcançar o sorriso eterno de Monalisa.
Mas não chego aos rabiscos do plé plimário!
E quem se importa? Muita gente, mas cada um a seu tempo, cada um do seu jeito, cada um como pode.
Fiz todas as minhas escolhas.
Em cada uma delas uma alegria e uma renuncia.
Quando o dia começa de cabeça para baixo talvez seja melhor retroceder ao seis e esperar pelo próximo nove.
O infinito recomeço.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Como ensinar aquilo que não aprendemos?

Final de semana chuvoso, além do cinema, da pizza, nada melhor do que limpar armários, tirar o pó das lembranças.
Nem nos meus sonhos mais dourados da infância eu poderia supor que uma criança poderia ter tanto brinquedo quantos os que vou descobrindo na minha casa.
Tudo bem que são duas crianças, mas na minha casa fomos cinco e nem com os herdados se juntou tanta coisa.
Brinquedos de meninos para a categoria dos que ainda distinguem brinquedo por sexo. Espantoso. Como diria Helga G. Pataki para Arnold, de Hey! Arnold (se não conhece a grade da Nickelodeon talvez não tenha mais tempo, já estão nos hits do passado...)
- é, eu sou uma pessoa bem espantosa, cabeça de bigorna!

Pois bem, brinquedos de meninos. Pistas de carrinhos com um dinossauro que ataca se não passar no momento exato. Há instruções do fabricante de como montar, desmontar e como guardar embaixo da cama, imagina o tamanho. Quantas vezes o dinossauro atacou? Talvez uma, duas vezes.
Uma coleção de Barbies. Normalmente reclamam de que acabam descabeladas, maquiadas, sem sapatos. As que encontro em minha casa poderiam voltar para as prateleiras não fosse o fato de estarem fora das caixas.
É, não tenho bonecas que gostam de bonecas. Gostam de aventuras narradas pelos mais de cem dinossauros que disputam espaço com bichos selvagens em uma convivência quase pacífica.
E a paixão pelo cinema em crianças multimídias que descobrem o filme novo na revista Recreio, sabem quando entrará em cartaz, se será em 3D ou não, querem o DVD e já sabem a janela em que serão lançados, 6 meses, 3 meses, mais barato, edição especial, e, como não poderia deixar de ser, o set de personagens. Começando com Toy Story, passando por Rei Leão, Os Incríveis, Ratatouille, Bob Esponja, A Era do Gelo (ai meu deus, pelúcias enormes!)... E por falar em pelúcias, separar algumas para doação porque o dia das crianças está chegando.
E como ensinar o que não aprendemos?
Também eu olho para elas e me lembro dos momentos em que chegaram.
Os nomes que receberam. As manhas que acalmaram. O medo que confortaram.
Nessa leva adeus ao coelho Rataplan, a mais um par de Julia e Wayne, a coelha Fofona, os ursinhos Ted, vindos direto dos EUA, usados no video viral para lançamento do Kazivu, alguns cachorrinhos e, uma vez mais, a Canguru e seu filhote salvos no último minuto.
É preciso deixar as coisas irem e ficar com o que significam, com o que significaram, mas, definitivamente, não é uma tarefa fácil!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Tatuagem na alma

E depois tem aquela coisa de que muita coisa que eu falo, falo pela beleza da construção da frase...
este menino é muito atabalhoado para esse job
muito o quê?
E muitas outras coisas para as quais as pessoas arregalam os olhos porque não pararam pra pensar no status quo.
Crio minhas filhas para o mundo, não para ficarem embaixo de minhas asas.
Aliás, quero uma velhice tranquila, abrigada embaixo das asas delas.
Não serei uma avó de fazer bolo de chocolate para os netos. Se não sei fazer nem para mim mesma?
Mas poderei ler para eles ou, melhor ainda, inventar histórias por horas a fio!
Se escrevo em um nickname qualquer, essas coisas de internet, msn, facebook... Pai Nosso que estais no céu... que vidão hein???
Não sou menos crente, independentemente da minha igreja, por isso.
Não vou perder o Pai por não perder a piada.
Os amigos tudo bem, dá pra perder por que na piada seguinte os recuperamos.
E também, hoje está chovendo tanto, não sei bem o que falar. E por que é mesmo que eu tenho que falar?
Já disseram que eu poderia ser uma atriz de stand-up comedy. Essa coisa tão antiga que de repente ficou cool no Brasil. Mas talvez não fosse tão natural. De qualquer forma, não deve ser à toa que meu nome do meio é aparecida. E é mesmo, de verdade, está lá no RG, no passaporte.
Sempre desconfiei que temos muito mais em comum com nossas denominações do que sonha nossa vã filosofia, ainda que alguns relutem a ponto de alterar seus nomes em documentos.
Mas é uma tatuagem indelével na alma, nenhuma piada apaga.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pertinácia exagerada

teimosia. s.f 1. Qualidade, ação ou procedimento de teimoso. 2. V. teima. 3. Pertinácia exagerada. [Sing. ger.: teimosice.]
É uma característica minha. Ora funciona para o bem, porque teimo conceitualmente sendo persistente no que acredito, no que busco e ora funciona para o mal. Não dá certo, perco tempo, irrito pessoas, irrito a mim mesmo.
Brincava no quintal quando tinha uns 11 ou 12 anos e minha mãe me chamou e pediu que eu fosse ao armazém comprar arroz.
Era assim, as crianças faziam pequenos serviços domésticos, pequenas compras, e os pais nem mesmo liam textos em revistas sobre psicologia da educação infantil e tudo funcionava muito bem.
A compra era feita em um armazém e tínhamos uma caderneta onde tudo era anotado e pago no final do mês.
O pacote de arroz não era exatamente como os que conhecemos hoje, de cinco quilos em embalagens plásticas, reforçadas, com marcas e posicionamentos.
Comprávamos a granel, um, dois, três, quatro, cinco quilos, quantos fossem necessários e eles vinham em sacos de papel pardo.
Nem tão resistentes assim, mas brilhantes, macio ao tato.
Eu fui, mas apesar dos protestos da minha mãe eu fui de bicicleta. Umas 3 quadras, nem isso!
teimosia. s.f 1. Qualidade...
É claro que ao voltar, na última curva para chegar em casa, quase em frente do portão o saco foi ao chão e o arroz esparramou-se pela calçada.
Plasticamente um espetáculo bonito.
Tive que recolher. Minha mãe aproveitou um pouco.
A conversa que tivemos sobre isso foi bastante reservada e correu sob sigilo por isso não posso publicar ainda.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

As primeiras palavras

Depois das primeiras palavrinhas que aprendemos, cristalizadas em nossa cultura como gugu dada, mas que na verdade são papa, mama, bola, gatu, e uma infinidade de dás... deveríamos aprender a palavra mérito, meritocracia.
Não para sermos sofisticados, nem talvez sua pronuncia correta, mas um mélito, méito, algo do gênero, mas carregado de seu conceito, talvez nos tornasse mais justos. Ou não como diria Caetano Veloso. Mas, certamente, retardaria o aprendizado da palavra cota, que me horroriza.
As pessoas deviam valorizar-se pelo que são, pelas coisas pelas quais são capazes, por suas conquistas e as duras penas que elas envolvem.
Não aceitarem pacificamente um carimbo na testa.
Porque sou negro tenho mais garantia de minha entrada na faculdade?
E as bizarrices que isso gera.
Em Brasilia, gêmeos separados por essa sinalização. Um considerado para a cota o outro não.
Nos EUA uma moça que sempre abordava professores com o coração aos saltos: essa nota X reflete realmente meu desempenho? Ou está sendo generoso comigo atendendo certas exigências de que notas de negros devem ser melhoradas para que a comunidade tenha a certeza de que são bons?
Não é monstruoso?
E não bastasse isso ouço no rádio do carro esta manhã que partidos políticos terão cotas a serem preenchidas por mulheres e que elas terão, sei lá, 10 minutos de espaço nos programas de televisão.
Não se envergonham?
A cota é prima irmã do conchavo, dos agrados, da politicagem, do uso de palavras que não posicionam. É uma grande família!
Talvez eu não vá muito longe porque não tenho esse dna na minha árvore genealógica.
Talvez meus pais tenham ganhado tempo me explicando os conceitos da meritocracia, essa coisa estranha que vem do latim mereo e que significa merecer para obter. Hummm

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pressa

Temos vivido nossas vidas com tanta pressa que não queremos nem mais esperar pela troca das estações.
A nossa pressa apressou a natureza e agora tudo se confunde e já não se sabe mais que a primavera começa no dia 21 de setembro, ou é 22? Ou é 23?
E vai até 21 de dezembro.
Já queremos o verão, mas não abrimos mão das flores.
Queremos inverno para usar o cachecol novo, mas um, dois dias e já está bem.
Como é que se ensinam hoje, nas escolas, as estações?
Temos pressa e para quê mesmo é que temos essa pressa toda?
Geramos uma expectativa que não damos conta de atender.
Esperamos do outro que leve menos tempo do que nós mesmos levaríamos para uma ação.
Humanamente impossível.
Não há tempo hábil.
Ter que explicar esses conceitos quando na outra ponta estamos também insistindo nos seus meandros não é uma tarefa simples.
Simples é deixar para amanhã porque tudo ainda estará em seu lugar e, se não estiver, o universo se encarregará de rearranjar.