segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Há que se pensar

O vestido era amarelo ovo. O cabelo meio avermelhado, de uma cor impensável há alguns anos atrás.
O sapato era preto, mas não daquele preto brilhante, de um verniz que já não tinha mais.
No dedo, um anel de pedra verde discreta e um desejo secreto de levar no peito um coração vermelho. De plástico mesmo, mas grande, de toque macio, pra ficar brincando nas reuniões tediosas.
Mas vestida assim não ia para reunião nenhuma então, já não fazia falta o coração.
A bolsa era sem graça. Essa sim precisava ir para doação e ela esperava ser surpreendida por uma bolsa nova, maravilhosa, acenando para ela de uma vitrine qualquer.
Tudo tão colorido, tudo tão festivo, mas uma nevoazinha cobria o seu sorriso. Já não sabia como esconder, nem se queria esconder, se queria endurecer, se queria enfurecer, se queria esquecer, se queria retroceder, se queria amadurecer, se queria...
O vestido amarelo ovo balançava ao vento de final de inverno, começo de primavera, e decidira, essa cor não era mesmo pra ela. Mais uma peça para doação.

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