quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Empáfia

Todos nos arvoramos de nossos conhecimentos, de nossas convicções.
No mundo corporativo então, esse comportamento extrapola os limites da insanidade.
E, em alguns casos, a pesquisa de mercado, os estudos estratégicos, ajudam a minimizar a pessoalidade e as defesas de teses.
Nem todos entendem a dimensão de um simples estudo e tampouco acreditam que pode haver mudanças no comportamento pessoal.
Mas é melhor exemplificar. Uma vez gerenciei um estudo para avaliação de embalagens para produtos veterinários.
No Brasil e na Argentina.
O escritório de design subestimava o conhecimento, o comportamento do cliente, a empresa, que por sua vez, fazia caras e bocas para o entendimento do instituto de pesquisa de mercado que, por ter sua relação direta com o consumidor, ou seja, uma relação nada corporativa, em nenhum momento subestimou o conhecimento, a preferência, o entendimento daquele que efetivamente ia comprar o produto ou decidir pela compra do mesmo.
O escritório de design desenvolvou 3 linhas diferentes e já preconizou: a mais colorida no Brasil, que é um país alegre, divertido e a mais séria, a mais cinza, na Argentina, onde os consumidores são mais formais, leem mais, tem grau de instrução mais elevado e essa intermediária só para não ficar nem lá nem cá. Nem 8 nem 80. E é isso.
O cliente (a entidade! normalmente composta por diretores e gerentes de marketing, gerentes de produto, de comunicação...) olhou, alguns gostaram, outros não, uns aceitaram a tese do perfil, outros não e então entramos nós com o estudo, não achando uma coisa nem outra.
Pois o que se viu foi exatamente o oposto!
Na Argentina a embalagem mais colorida chamaria mais atenção, seria mais fácil de ser identificada, era mais bonita, mais alegre, já que a finalidade era tão séria podia se aliviar com essa carga de cores.
Para os brasileiros, um assunto tão sério não deve ser tratado assim, com um carnaval de cores, embalagem chamativa é para outro tipo de produto, brinquedos, produtos alimentícios infantis, não um produto veterinário que deve ser mantido em segurança, trazer informações técnicas.
Foi muito fácil recomendar a terceira opção, feita quase que por acaso, só para ter um caminho a mais, mostrar trabalho, empenho. Óbvio que há que ter algum ganho de escala, de reconhecimento de marca e que as informações podem estar em português/espanhol otimizando a produção.
Engraçado foi observar, após a apresentação, como cada um dos envolvidos recolhia seus computadores pessoais, seus papéis, sua arrogância, suas certezas, desconfortáveis com o fato de defender antes de entender.
Já lá se vão muitos anos, mas muito pouco mudou.


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