quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em 1989, mil felicidades

É, eu sou do século passado e algumas lendas urbanas são verdades. É bom envelhecer, olhar sem viés, compreender.
Lá em 1989, eu fui de ônibus do Ipiranga até um ponto da Av. Paulista.
Era final de janeiro ou começo de fevereiro, já não lembro.
A noite estava agradável, o ônibus vazio, as luzes da cidade piscavam para mim, mas eu não estava interessada.
Sentei-me bem na frente, para olhar a paisagem desobrigada de prestar atenção e poder descer sem atropelos.
Na metade do trajeto um cara sentou-se ao meu lado.
Com tanto lugar para sentar-se veio ocupar-se de me tirar do sossego.
Pouco depois ele sacou o maço de cigarros e eu olhei de rabo de olho, e essa agora?
Vai fumar?
Pegou o papel de seda e começou a trabalhar no papel como quem faz crochet.
O rabo de olho já era um olho inteiro, e essa agora, vai preparar um cigarrinho?
Dois pontos mais e ele me entregou uma gaivota de origami, disse que me traria mil felicidades e desceu do ônibus.
Fiquei olhando para o papel dobrado. Tenho a gaivota até hoje.
Mais alguns pontos, alguns passos e eu chegava para o meu primeiro encontro com o meu amor.
Com quem ontem completei 19 anos de um casamento de verdade.
Eu ganhei mesmo mil felicidades, de um completo desconhecido, de quem desconfiei e quase mal disse.
Tudo, absolutamente tudo, pode estar agora mesmo ao seu lado.

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