terça-feira, 15 de setembro de 2009

Procuro um senhor

que pode já nem estar mais entre nós porque já aparentava bastante idade há 26 anos atrás, mas quem sabe?
Até hoje me assombra o fato de não ter conseguido me explicar, de tê-lo deixado escapar com uma imagem que absolutamente não era eu.
Quem se importa com o que pensam de você? Todo mundo eu diria. Alguém diria algo diferente?
E por que nos importamos?
Uns se importam com a aparência, outros com o jeito de ser, outros se importam com tudo que venha de quem nem importa muito, mas não se importam com quem deveriam se importar. Complexo? Não, é só pensar em um pré adolescente que se importa com o que pensam os amigos e não se importa com o que pensam os pais.
Mas aqui a história é outra.

Eu tinha 19 anos e descia a Av. Brigadeiro Luis Antonio com uma amiga e um amigo, íamos ao Teatro Ruth Escobar, ensaio de coreografia.
Na altura de um supermercado que ainda hoje lá está, logo depois da Paulista, eu contava a eles, estupefata, que tinha conversado com uma pessoa bem importante, bem informada, bem formada e que ela tinha cometido um erro de português atroz. Não me lembro exatamente qual foi o erro, mas era algo da categoria de menas.
Para minha infelicidade eu vinha dizendo: vocês acreditam que ele disse....? E reproduzi o erro.
Nesse exato momento, esse senhor que procuro nos ultrapassou, caminhando rápido, de terno escuro, alinhado, olhou para mim com um olhar severo emoldurado por cabelos brancos e foi enfático:
- não destrua o vernáculo!
Apressou o passo e perdeu-se no mar de gente que traçava o mesmo caminho e eu não consegui alcançá-lo para dizer que estava tão indignada quanto ele, que estava apenas repetindo um erro que ouvira por puro assombro!
Não logrei.
Aquele senhor ficou com a imagem de uma garota que destruía o cabelo, todo descolorido, muito, muito curto mas com longos fios trançados na nuca, que destruía um par de alpargatas bordando pontos desconexos, que destruía um casaco de fina gabardine pendurando alguns adereços... Mas que jamais destruiría o vernáculo! E isso ele não soube porque não estava espelhado, reproduzido, retratado, conceituado.
Quem se importa? Eu ainda me importo.
Procuro um senhor...

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