quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Porto não era exatamente Seguro

Quando morávamos em São Paulo minha primogênita estudava no Porto Seguro.
A caçula, em casa, ainda não sonhava com seu destino escolar.
Há umas diferenças, umas nomenclaturas... enquanto estudava no Portinho, para alunos de até 4 anos, tudo ia muito bem.
Areia do playground azul, cozinha industrial encantadora, piscina aquecida, caminho de água, professora, auxiliar da professora e babá. Poucos alunos por sala.
Depois ela cresceu. Puxa, completou 4 anos! E lá se foi para o Portão. Edifício em frente ao Portinho.
Duas salas do Portinho compunham uma do Portão. E aí a coisa não foi muito bem.
Um dia o papai foi buscar porque havia quebrado o dedo, que ficou preso em uma porta de correr. Claro, ela era uma hiena fugindo de um caçador e calculou mal o tempo para fechar a porta.
Acontece, não vamos falar de segurança nesse contexto. Vamos ao dia em que fui chamada para uma reunião com a professora, agora já sem auxiliar e sem babá para uma reunião extraordinária.
Fui.
Dona ... Sim, lá as professoras são chamadas de Dona, porque não são parentes de ninguém para serem chamadas de tia, no que eu concordo absolutamente, e porque é preciso ensinar respeito e hierarquia.
Pois bem, a Dona Professora me relatou que minha primogênita tinha problemas de relacionamento com a turma e não conseguia participar da roda.
A roda era uma atividade diária, um dia um jogo, noutro dia uma leitura, e, para comprovar o fato relatou a seguinte situação vivida na roda:

- crianças, vocês dizem o nome de um bicho e os amiguinhos vão falar o que sabem sobre ele, qualquer informação vale

Na vez da minha pequena, interessadíssima por animais, por dinossauros, por detalhes:
- ornitorrinco

Silêncio na roda. E a Dona Professora:
- outro meu bem, esse os amiguinhos ainda não conhecem

- ouriço do mar

Silêncio na roda. E a Dona Professora:
- ah, vamos lá, diga algo como gato, cachorro, cavalo

E minha pequena indignada:
- o quê? esses bichos que todo mundo conhece? esses eu não falo, quer saber? eu nem quero ficar nessa roda de bobos

E eu para a Dona Professora:
- e por que não inverteu a brincadeira no segundo animal? poderia ter dito: olha que legal, se você conhece e os amiguinhos não, conte para eles como é esse bichinho aí, esse tal de ouriço do mar!

Silêncio na roda. Quer dizer, na reunião.
Não era seguro no que nos é mais precioso: criatividade, perspicácia, pensamento rápido.
Embarcamos em outra viagem, ancoramos em outro porto, que não tem areia azul, mas a roda recebeu bem os espinhos que carregamos.




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