O que ela gostava nele era a capacidade de cultivar o silêncio.
Como quem planta e rega uma sementinha, que cresce, que dá flor.
Olhos postos nesse vaso de boca fechada. Bonito, cor viva, balançando ao vento leve, em paz.
O que ele não entendia nela era aquela incontinência verbal.
E tanto que não sabia sinônimos. E tanto que sinceridade passava por brutalidade, que novidades pareciam milho em óleo quente. Pipoca a toda instante.
Segredos não, que esses usavam um código que não lhe escapavam de maneira nenhuma, nem quando ele alegava falta de amor, falta de confiança.
Na verdade, não era o conteúdo do segredo que lhe interessava, mas o mecanismo que a fazia contê-los.
Se descobrisse esse mínimo detalhe, chegaria a um método didático de lhe ensinar a cultivar o silêncio.
Não sabiam nada um do outro além do amor que sentiam.
Descobriam as palavras ausentes de um e o excesso delas do outro entre um café, um cinema, uma tarde na livraria.
Com o tempo ela foi aprendendo. Cultivou o silêncio do seu modo, mas logrou.
Ele se questionou se era isso mesmo que esperava e temeu sentir saudades de outros tempos e até perguntou, mas ela já estava bem adiantada nas lições e não respondeu. Ambos agora cultivam o silêncio e ainda não sabem onde vão chegar.
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