Mas os olhos baixos não escondiam a vontade de levantar a saia, de arrancar a saia, de mudar de vida.
Queria mesmo era uma daquelas calças de marca, rasgadas mas novas, desbotadas mas novas, com uma etiqueta grande, de preferência de couro, de preferência no bolso de trás, indicando a direção de todos os olhares.
Ele apenas olhou de relance.
E então ela fingiu abotoar o botão da camisa, como se tivesse sido surpreendida por esse atrevimento de um botão que resolve deixar sua casa e escancara novos horizontes.
Mas ninguém olhou para esse novo horizonte.
Queria mesmo era comprar uma blusa listrada, de preferência branca e roxa, com uma fita amarrando na cintura que assim podia disfarçar que não era lá tão bem desenhada.
Ele nem notou.
Estava tão nervosa que acenou para um ônibus mas não era um ônibus circular, um fretado, um ônibus de turismo que a ignorou completamente e seguiu seu caminho.
Mas não o táxi. Não, o táxi não hesitou e ao ver o aceno da mão freou bruscamente diante dela.
Compreendeu rapidamente a situação e a confusão em que se metera.
Não, não ia dispensar o táxi na frente dele, não travaria um diálogo sem sentido, não conseguiria explicar a situação ao motorista curvada sobre a janela aberta do passageiro e com os olhos dele tentanto ouvir o que ela dizia.
Simplesmente embarcou.
Para onde?
De pensamento rápido, fingiu não ouvir e começou a remexer a bolsa desesperadamente, para ganhar tempo e assim que avançaram alguns metros:
- oh não, preciso descer, saí tão apressada que a carteira ficou em casa, pare moço, por favor, e mil desculpas pelo inconveniente
Ele freou de mau humor. Ela desceu aliviada.
Agora era caminhar porque não podia correr o risco de pegar, no próximo ponto, o ônibus com o seu príncipe dentro.
Era a sapa da história e não tinha esperanças de virar princesa!
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