quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Desprendimento

Será que quando começamos ter a sensação de que todas as nossas histórias foram há muito tempo é porque estamos nos sentindo velhos?
Estou com essa sensação. Lembrei de uma história bonita e mesmo antes de começar a coreografar as palavras no balé da narrativa eu me surpreendi pensando: nossa, mas eu nem tinha filhos quando isso se deu... E pensar que minha primogênita recém completou dez, não é tanto tempo assim.

Bom, mas essa é outra história. As minhas histórias disputam, todas querem ser a primeira bailarina do municipal.
Certa noite, após um dia cumprido de trabalho, atirei-me no sofá, pés para o alto, não me lembro mas certamente um gato no colo e vi uma cena de novela na TV.
Não sei que novela, não sei quem era a atriz, mas o fato é que ela usava um cordão com um coração vermelho e eu tive certeza absoluta de que aquele coração já tinha sido meu.

Eu conhecia aquele objeto, eu já usara aquele coração, aquela peça já tinha andado em meu pescoço, sem nenhuma sombra de dúvida.
Era como se eu tivesse vivido uma outra vida, como se uma recordação distante, meio amarelada, se intrometesse em uma vida nova e dissesse: lembra que me esqueceu?
Jantei, fui dormir, não sei se sonhei, não comentei com ninguém, mas desenvolvi o hábito de levar a mão ao colo em busca de um cordão com um coração inexistente.
Dois ou três dias depois em uma reunião, uma amiga perguntou:
- esqueceu o colar e está sentindo falta? você não pára de passar a mão no pescoço...
Resolvi contar a ela. Inclinou a cabeça, me olhou demoradamente. O cabelo bem curtinho escondeu o que ia na cabeça mas os olhos castanhos não esconderam o que ia na alma.
No dia seguinte na minha mesa...
- trouxe um presente!
Abri um pacotinho e lá estava um coração de ouro.
- não é o mesmo, mas ganhei da minha mãe, que ganhou da minha avó e acho que você é a melhor pessoa para cuidar dele
Como pode ter esse desprendimento? Pensei, perguntei, olhei curiosa.
- acho que os objetos escolhem as pessoas e nos enviam alguns sinais
Saudades Malu.



2 comentários:

  1. Lusia querida, a Rositta me mandou a sua cronica e confesso que não me lembrava dessa passagem, mas de fato fiquei extremamente emocionada e feliz de saber que faria exatamente a mesma coisa.
    Com certeza ficarei assídua no seu blog.
    Beijo enorme,
    Malu

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  2. Você sempre morou em meu coração... beijos

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