Árvores caem, rios alagam e inundam ruas e avenidas.
As pistas ficam molhadas e os congestionamentos aumentam.
Nada a fazer. Alguns falam no celular, outros ajustam as músicas nos infindáveis aparelhos.
Alguns ajustam inúteis GPs.
Eu gosto de olhar as pessoas mas em noite de chuva eu não as vejo em seus carros herméticos.
Então, eu olho os carros.
E ouço rádio, mas isso já é lugar comum.
Ontem à noite aprendi um jeito novo de ver os carros.
No reflexo do asfalto molhado.
O Ka cinza de placa DSK 8742 cortou a minha frente.
Não sei se era homem ou mulher, mais provável que fosse uma mulher.
Uma necessidade absurda de ficar 18 centímetros à minha frente.
Uma pena.
Mas foi então que eu vi toda a intimidade do carro dela.
Sem protetor de cárter ele parecia tão frágil. Tudo exposto como um corpo que se prepara para uma cirurgia.
O escapamento, outras peças inomináveis, tudo à mostra, tudo aparente, tudo exposto.
O escapamento, outras peças inomináveis, tudo à mostra, tudo aparente, tudo exposto.
No chão molhado, negro, brilhante, parecia uma foto do sistema digestivo em um livro escolar qualquer.
Depois ela se foi, precisava ganhar rapidamente mais 18, 20 centímetros.
E fui descobrindo outras intimidades.
Fotos lindas impossíveis de serem fotografadas.
Imagens em movimento de uma intimidade quase invasiva.
Quando o ócio não gera o óbvio eu fico mais feliz, mesmo num congestionamento quase histórico.
Reflexo de reflexões.
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