quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia de quarta-feira

Chegou em casa tão cansado que os pés mal saíam do chão.
Dia cheio, trem cheio, marmita quase vazia, mestre com saco cheio, faltou pedra, o cigarro acabou, banheiro ruim, nossa, a lista era grande demais, melhor nem continuar pensando.
E o sujeito do ônibus que não contente em sentar sozinho em um banco ainda esticava o pé no corredor fazendo todo mundo tropeçar? E brigar com um tipo daqueles? Quem? Ele que não, com menino pra sustentar, mas que dá vontade de falar umas bem boas ah isso lá dá.
Estava tão cansado que se jogou no sofá e fez uma carinha de quem pede sem palavras um prato com tudo que tem, que hoje o dia foi brabo!
A estratégia é sempre a mesma, o texto é sempre o mesmo, ninguém esquece, ninguém põe um caco sequer, é quase uma cena de novela. Bom, aí também não que casa de pobre em televisão é bemm mais bonita que a dele. Na televisão não tem sofá das Casas Bahia, o que tem é abajur pra todo lado. É tanto canto pra ter mesinha com abajur em casa de pobre de novela que bem caberiam mais umas duas ou três famílias lá.
Mas o fato é que, enquanto a mulher prepara o prato, ele pode mudar o canal da televisão.
Dia de quarta-feira é dia de jogo, ah que ele não ia perder mesmo, de quarta-feira já sabe, é jogo porque novela tem todo dia. Ele mesmo que não vê quase nunca consegue acompanhar! Um dia só não faz diferença e nem é bom pro moleque.
Estava tão cansado que não se levantou quando ouviu a primeira pessoa gritar.
O prato chegou, deu a primeira garfada. Ai se tivesse uma cerveja gelada ela ia descer rasgando de delícia. Mas isso é só de sábado, quando tem pagamento, que pobre tem que juízo.
A mulher já foi logo espiar pela janela, ô bicho curioso, mas também, não foi uma nem duas pessoas que gritaram, começou uma correria que ninguém fazia idéia.
A mulher na janela, ele com o prato na mão, quando viu o moleque escapando pela porta já era tarde!
Se não é festa de são joão isso não pode ser rojão. Se tudo ficou em silêncio de repente isso não pode ser nada bom. Se a Dirce perdeu a cor, perdeu a fala e gesticula em câmara lenta... será que o jogo acabou?

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