Nem nunca ninguém batera com qualquer coisa no carro dela.
Um tesouro.
Mas naquele dia, tudo ia mudar.
Dia comprido, reuniões longas, infindáveis filas de carro. Marginal anda e para, anda e para. Música lenta, melhor mudar isso!
Em um segundo, entre apertar um botãozinho do celular para uma música mais agradável começar, BUM!
Digamos um bum, mas um bum. Batera na traseira do carro da frente.
Tão leve que nada poderia ter acontecido. Mas como saber se o carro da frente era tão velho, tão amassado que olhando rapidamente não podia dizer se estava de frente ou de ré e tão pouco dizer que marca e modelo era?
Parada estava, parada ficou.
O cara do carro da frente desceu para olhar.
Ela não, abriu o vidro e sugeriu avançarem alguns metros mais para chegar em um recuo e não atrapalhar ainda mais o trânsito.
Antes mesmo de dizer isso e dele ter concordado, o tempo que ele levou para chegar nela pareceu uma eternidade em camara lenta e ela pensou:
- meu deus, que tipo, estou perdida, o mínimo que ele fará será dizer: desce do seu carro, segue no meu que eu fico com o seu...
Mas ele disse qualquer coisa de atenção e concordou em ir até o recuo.
Cara de bandido. Mas quem disse que bandido tem cara? Que pré conceito absurdo ronda nossas vidas, nossas obscuras faláceas de que não somos assim, de que abraçamos todo mundo!
Era grande, mal encarado e a única coisa que parecia ser um alento é que estava acompanhado de uma mulher.
Quando abriu a boca era um doce.
Quase pediu desculpas por estar em posição tão incômoda, bem na frente do carro dela, justo no momento em que ela precisava trocar a música.
Ela deu um cartão, se desculpou. Ele alegou avarias além da conta daquele toquezinho, mas tudo bem.
Dias depois telefonou.
- desculpa mas vai ficar em duzentos reais
Óbvio que o dinheiro não faria diferença nenhuma em qualquer ajuste que ele quisesse fazer naquele veículo, mas por que discutir?
- Ok, posso fazer um depósito?
- Ok, posso fazer um depósito?
- não, eu não tenho conta em banco não, minha noiva pode buscar um cheque?
- claro, pode vir amanhã, estou...
Ele mereceu meus duzentos reais pelo que era e pelo que eu pensei que fosse do alto de minha arrogância em revisão desde então!
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