Na minha infância a minha casa vivia cheia de gente. Simplesmente porque era impossível ser diferente onde havia pai, mãe e cinco filhos. Mas era só.
Nunca fomos de receber muitos parentes, apesar de termos uma árvore genealógia parecida com a General Sherman.
A General Sherman é uma sequóia-gigante, que fica no Sequoia National Park, Serra Nevada, Califórnia. Calcula-se que supera os 2000 anos de idade, possui 1.487 metros cúbicos, aproximadamente 84 metros de altura e o tronco, na base, um diâmetro de cerca de 11 metros.
Mas, todas as raízes, galhos e folhas morando em cidades diferentes e distantes tornavam as visitas raras mesmo em épocas especiais como Natal.
Também não era uma casa de ficar com portão e portas abertas para entra e sai de vizinhos, apesar de ser uma casa em uma rua quieta de um bairro em uma cidade do interior.
Por isso, talvez, eu tenha demorado tanto para entender porque é que minha mãe punha a cortina do avesso.
Para mim não fazia nenhum sentido que a parte bonita da cortina ficasse para dentro da sala, dos quartos e que o forro ficasse a mostra, para fora da casa.
Eu entendia que quem precisava ver a estampa, a renda, o laçarote ou o que quer que seja da cortina eram as pessoas que viam a nossa casa de fora para dentro.
Quem passava na rua. O vizinho que espiava. O carteiro. O leiteiro. O verdureiro. O homem do algodão doce. A mulher que vendia Yakult. O sorveteiro.
De fora pra dentro. Nem a cortina conseguia me convencer da doce história da beleza interior.
Imagina quanta matéria prima eu forneceria a um terapeuta? Ele explicaria a minha vida inteira baseando sua tese nessa minha distorção.
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