sexta-feira, 4 de abril de 2014

De cães e tapetes

Pensou em um jeito de dizer não, mas não encontrou.
Dizia sim desde sempre.
As pessoas riam dela.
Ela sentia-se bem quando era criança, mas conforme foi crescendo foi se achando a pessoa mais boba do mundo.
Quando tentava não ser boba não dava certo.
Ela com ela mesma se desintegrava e era um tal de tanto pensar que tontificava.
Estava decidida a ser boba até o fim.
O que tinha a seus pés e que não se importava com esse jeito era o tapete.
Nada além do tapete.
Tinha um gato. Mas ele não era desses gatos grudados que ficam deitados no colo e um cachorro não podia ter.
Cachorros exigem demais e ela não tinha muita coisa a oferecer.
Naquele dia, quanto o telefone tocou, ela ficou eufórica pensando que receberia uma proposta.
Mas era só uma consulta.
Talvez por essa frustração momentânea falou sem muitas conjecturas e falou tudo o que realmente devia falar.
Quando terminou percebeu que tinha dito a verdade, sem sofrer, sem parecer boba, apenas disse, num tom de voz nem alto nem baixo. Ponderou que não queria prejudicar ninguém, mas que fato era que...
E assim, pela primeira vez, aos ouvidos de alguém ela teria sido má.
Não doeu tanto.
Sim, já era hora de ter um cachorro e era hora de trocar o tapete da sala.