sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Esvoaçar

Não fosse o tempo que não te vejo deixar um rastro em minha memória eu não saberia mais que você existiu.
Tudo não passou de um pedaço da minha história. Um quadrinho talvez. Uma mudança de página e de repente um grande fim escrito no meio.
A foto amarelou.
A rosa murchou.
A janela bateu com o vento e um pedaço da cortina ficou gritando por socorro no alto do décimo quarto andar.
O livrou caiu, o marcador se perdeu e a história aproveitou para embaralhar-se.
Não fosse o tempo e tudo se resolveria.
O céu tão azul e límpido que não dura para sempre estaria até hoje no ar.
Memória hermeticamente fechada.
Um rastro na minha memória.
Estivesse você aqui e não teria um rasgo no meu querer.
Uma dor no peito.
Um amargor na boca.
Um tremor nas pernas.
Um novo pedaço de história pode ser escrito.
Uma aquarela no lugar da foto.
Margaridas no vaso.
Janela calçada para não prender a cortina, deixar a vida esvoaçar.

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