Não tinha
apego.
Não tinha
apreço.
Não tinha
amor.
Não tinha
amigos.
Tinha um
gato. O Fenômeno.
E detestava
toda vez que alguém, ao perguntar o nome do gato, logo deduzia que era uma
homenagem ao Ronaldo.
Não gostava
do Ronaldo.
Não gostava
de futebol.
Mas, para não
explicar tudo isso e ser considerado ainda mais esquisito por não estar no padrão masculino de ser fanático por futebol, apenas respondia que não.
O problema é
que as pessoas não param nas respostas sucintas.
As pessoas
não se conformam com a dicotomia sim e não.
As pessoas
são atadas aos porquês desde que aprendem a falar.
E ele,
emaranhado nessa rede, explicava.
Ele se chama
Fenômeno porque é de fato um fenômeno que, ao aparecer em casa, esse gato vira lata
me tenha escolhido para ser o seu dono.
Logo eu, um
cara que não gosta de quase nada e de quase ninguém.
Mas o
Fenômeno não dava trabalho. Não precisava passear.
Miava como
quem pede desculpas quando queria mais comida.
Tomava água como
onça e como onça ficava nervoso apenas quando ela não estava fresca.
Não se
incomodava em ficar sozinho um final de semana em que ele dava um pulo na praia.
O Fenômeno
se enroscava ao seu lado no sofá enquanto via alguma bobagem na TV.
Ronronava de
leve enquanto se ajeitava aos seus pés, no pé da cama.
E tinha
tanto apego.
E tinha
tanto preço.
E tinha
tanto amor, que arriscou escrever uma carta de próprio punho para a ex-mulher.
Se acontecer alguma coisa comigo não se preocupe com nada que tudo já deixei encaminhado, só se ocupe do Fenômeno que, quando me escolheu, não tinha como saber que eu era um cara assim, de tão sozinho, quase ruim! Obrigado.
Se acontecer alguma coisa comigo não se preocupe com nada que tudo já deixei encaminhado, só se ocupe do Fenômeno que, quando me escolheu, não tinha como saber que eu era um cara assim, de tão sozinho, quase ruim! Obrigado.
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