segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Coisas que eu perdi


De quando era criança não me lembro de nada que eu tenha perdido e que tenha se tornado uma perda enorme!
Eu me apiedo das coisas e fico pensando nelas que ficam pensando que eu as negligenciei e não é bem assim.
Perdi o escaravelho encrustrado em prata que Eunice, uma das mulheres mais elegantes que conheci, amiga de minha irmã mais velha, me trouxera de presente de uma das suas viagens de sonho.
Ele era incrível e eu lhe atribuí um caráter de sorte que durou pouco. Pendurado em um cordão vagabundo junto com tantos outros penduricalhos sem valor, ele se foi durante uma festa da minha juventude. Levou com ele uma gota dela.

Perdi a tiara que eu, caipira, chamava de "arquinho". De resina, com as cores do arco-iris, retorcida no alto, tão colorida e linda, tão importante para prender os meus cabelos longos e cacheados à custa de muito "permanente", que me dava o ar hippie de quem tem dezenove anos. O mar de Boa Viagem levou. Durante muitos dias eu vasculhei a areia na esperança de que tivesse me devolvido.

Perdi o meu anel de dezoito argolas de prata. Lúdico. Comprei outro igual. Encomendei, esperei, paguei, mas não é a mesma coisa. Em que dedo perambula ou em que canto escuro e improvável ainda espera que eu o encontre?

Coisas que eu perdi. Eu não me importo de liberar as coisas para terem uma vida melhor, roupas e calçados que não uso, bolsas que não cabem mais no espaço que tenho, relógios que não me agradam mais, objetos, brinquedos então... mesmo sendo das crianças, desapego. Mas quando as coisas se vão de mim, assim sem notícias nem preparação, ah eu me entristeço e não me esqueço jamais! É um jeito, o meu jeito, de olhar pra trás.

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