quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Alguém pariu

Se estava ali, alguém pariu.
Se alguém pariu, em algum momento deve ter tido um pensamento carinhoso, por menor que tenha sido esse tempo.
Se estava ali, sobreviveu.
Que leite tomou, que pão comeu, não é possível dizer.
Não se sabe se a vida veio vindo assim, dura até aqui ou se em algum momento foi diferente.
Não creio.
Se estava ali sobreviveu a sarampos e cataporas, mas se alguma vez teve o braço picado para proteção, não é possível dizer.
Gesticulava como quem conversa animadamente com um amigo, mas estava só.
A roupa solta no corpo magro poderia ser cool, mas era poor.
O cabelo embaraçado, duro.
Os olhos vidrados.
As mãos trêmulas.
Se estava ali, alguém pariu.
Cresceu a despeito de tudo.
Refazer o caminho do homem negro, magro, perdido na rua arborizada em segundos deveria valer como uma oração para que essa vida fosse outra.
Amém.

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