A sala de espera do dentista precisa de uma pintura nova, cadeiras novas e de um ventilador que não se sinta humilhado por ter que fazer as vezes de um aparelho de ar condicionado.
Estou com raiva.
Se soubesse porque era mais fácil desfazer, mas eu não sei.
Ou sei e não quero listar, pensar, encarar, resolver?
Também não quero decidir isso. Tanta coisa para decidir.
Tão cansada de tudo sempre tão igual e nem sempre do meu jeito.
Melhor pensar no ventilador que tenta me refrescar.
Sábado de sol.
E ela, a mocinha da recepção, indiferente à minha cara de poucos amigos me fala do tempo.
Do sábado ensolarado. Do calor.
E me conta sem pudor da sexta-feira passada fria e chuvosa e sobre o casamento do amigo Manoel.
E me dá detalhes do vestido emprestado que usou.
Carol.
Por que as pessoas escolhem nomes tão bonitos para depois simplesmente rasgarem ao meio as sílabas indefesas?
Já me explicaram várias vezes, nunca encontro um argumento que ponha fim à essa indagação.
Meu braço arranhado.
Uma música antiga em uma rádio perdida no dial.
Esse sábado único.
Essa raiva besta que não me deixa aproveitar a vida direito.
O dentista olha, me recomenda bochechos de salmoura, marca uma nova data para quando o ano novo chegar.
A mocinha da recepção é tão simpática que tenho vergonha da minha raiva inútil.
Ainda bem que, conforme me ensinou a minha mãe, disfarcei meu mau humor o tempo todo e não fiz nenhuma mal criação!
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