terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Maria José

Olhou as vitrines, entre apressada e desinteressada.
Não sabia há quanto tempo não comprava uma saia.
Não sabia mais.
Perdera o jeito de entrar, tocar, perguntar, experimentar, gostar, comprar.
Por isso simulava pressa, dava um sorrisinho sem graça.
Podia enumerar as coisas que não tinha tido.
Vestido de festa.
Vestido de noiva.
Vestido de reveillon.
Vestido de formatura.
Camisola de cetim.
Olhou o relógio, ainda tinha tempo.
O tempo esgarçara a sua vontade, mas não a ingenuidade.
Já se prometera tantas vezes que não mais agiria assim e lá estava ela, boba.
As pessoas andam agitadas quando dezembro sinaliza as festas.
Ela tentava disfarçar o descompasso, só ela não tinha para onde ir rapidamente.
Esperava.
Uma vez mais, uma última vez. Quando olhou para a bolsa deixou-se ficar e imaginou tudo o que poria ali.
Viu seu reflexo no vidro enfeitado, nenhuma moça veio lhe incomodar
e por isso deixou-se ficar.
O sapato era bonito. Não viu o preço, mas era melhor pensar que iria machucar,
não tinha seu número.
Melhor despensar.
Riu da palavra nova.
Olhou as vitrines uma vez mais.
Ele não vinha. Já era líquido e certo.
Escolheu uma porta lateral e saiu desejando não ter sido vista.
Pensou em todas aquelas câmaras.
Ficou com vergonha do desconhecido que certamente a acompanhou em seu passeio inútil, triste, feio e totalmente sem sentido.
Quis chorar pelo sentimento novo, mas apenas apressou o passo para não perder o ônibus.
Sempre boba, a Maria José.

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