Nem a mãe, nem a manhã fria tirou do moleque o prazer de empinar a pipa.
Nem o lugar inóspito onde os seus o levaram para morar: beira de estrada, um quase barraco em um quase barranco pendurado ao lado de uma sofisticada auto-estrada.
Mas algumas pipas são indomáveis.
Aquela de um amarelo ouro fugiu do seu rapaz.
Enroscou-se no para-choque do caminhão e foi embora para sempre.
Até onde não sei.
Só sei que quando passei pelo caminhão o movimento diferente chamou a minha atenção.
A pipa fujona pegou carona enroscando-se ali e descansando de seu vôo solitário fazia planos para a próxima parada.
Quase adivinho o motorista de mãos duras desenroscando a pipa delicadamente.
Não porque pretendesse fazê-la voltar ao céu, não. Apenas porque com certeza ela lhe fazia lembrar de um tempo em que ele fora moleque.
Nem a mãe, nem o menino, nem o motorista e nem eu fomos capazes de convencer a pipa de que aquele não era o seu destino.
Mas as pipas são teimosas e o fluxo da Bandeirantes não deixa espaço para essas melosidades, como diria minha primogênita.
Fugiu do seus destino de pipa, mas não encontrou nada além da linha que a conduziu.
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