quinta-feira, 19 de março de 2015

Marque uma hora com Dona Inês

Dona Inês tinha um dos jardins mais bem cuidados da rua, quiçá do bairro!
Conhecia toda a gente, era delicada e gentil a Dona Inês. Mas, há pouco, virara motivo de conversas.
Costureira por longos anos, com clientes chiques, resolvera se aposentar.
Mas qual o quê, ela não pôde ficar parada. Precisou arrumar uma ocupação.
A filha não deu muita bola para a explicação dos planos da mãe. Já tinha muito com o que se ocupar, separada, três filhos e um emprego que defendia com unhas e dentes.
Pois a Dona Inês, que era católica, começou a frequentar toda e qualquer igreja, cultos e afins.
Assembleia de Deus.
Igreja Presbiteriana.
Centro Espírita.
Universal do Reino de Deus.
Adventista.
Luterana.
Visitou centros budistas e foi a sinagogas.
Comprou livros e mais livros sobre o tema.
Quando encontrava as vizinhas e as clientes na padaria, na farmácia, no açougue, a conversa era sobre o tempo, a costura que faz falta, lhe perguntavam sobre os netos e quando se despediam... Era um tal de “endoidou”, de “essa tá com um medo da morte que só vendo”, “essa não tem mais Jesus no coração”, essa isso e essa aquilo.
E piorou ainda mais quando toda a tarde aparecia um rapazinho na casa da Dona Inês que alguns diziam que era um rapaz que mexia com internet e computador, essas coisas de modernidade.
Mas de repente o mistério se desfez. Dona Inês tinha outra profissão, com placa na frente de casa com número de celular e até endereço de site!
Dona Inês agora era Consultora de Religiões. No site tudo se explicava. Você marca uma consulta, conta tudo, mas tudo mesmo para a Dona Inês e ela indica qual a melhor religião, crença, igreja que você deve frequentar! Às vezes em uma única sessão já se sabe, em outros casos, depois de cinco ainda nada! Ela diz que alguns casos são quase impossíveis porque a comunidade rejeita o indicado! Ela faz um encontro de almas e crenças!
Sabe de um tudo essa Dona Inês e parece que agora tem mais clientes do que na época das costuras. A vizinhança não deixa ponto sem nó e fala sem dó da Dona Inês, mas ela é muito espiritualizada e tudo releva.

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