segunda-feira, 16 de março de 2015

Ah Alzira...

A Alzira era uma menina comum.
Tirando o fato de se chamar Alzira. Nascera no mesmo dia em que a bisavó e a avó, emocionada, sugeriu o nome.
A mãe não gostou, mas estava fraca de tanto esforço para parir menina tão pequena que nem opinou.
O pai que andava às turras com a velha, mas que precisaria dela nos cuidados da casa, da mulher e da filha, capitulou.
Ele, de fato, queria mesmo um moleque então tanto fazia.
Alzira não era feia nem bonita.
Nem magra nem gorda. Nem alta nem baixa. Uma menina comum.
Não tinha cabelos loiros cheios de cachos. Não tinha covinha num rosto redondo e rosado.
Alzira não tinha olhos azuis nem verdes.
Alzira não era nem muito morena nem muito branca.
Alzira chorava quando tinha fome, mas não fazia escândalo.
Quando começou a andar, a falar, quando deixou as fraldas, quando começou a escovar os dentes sem ajuda foi desaparecendo dentro de casa. Alzira não dava trabalho. Era uma menina comum, uma menina quieta.
Se as meninas da rua chamavam para brincar, levava sua boneca, sentava e brincava.
Se não chamavam, pegava sua boneca, sentava em um canto e brincava.
Alzira não dava trabalho. Alzira era uma menina comum, crescendo e desaparecendo sem brilho nenhum.
Na escola não era a primeira aluna, mas também não era das piores. Uma menina quase invisível. Por isso, a mãe levou um susto imenso quando na reunião de professores foi chamada na sala ao lado por uma diretora carrancuda que a advertiu: a Alzira precisa de freio! Pois ela levanta a saia e mostra a calcinha para os meninos e até mesmo para o professor!

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