sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Olhar Periférico

Os cabelos pareciam o de um cantor de reggae e ele usava um macacão laranja, não por ser cool, mas porque prestava serviços para a prefeitura limpando o canteiro central da avenida movimentada.
Manhã cinzenta. Ele estava de costas, concentrado. Colorido.

Dobro a esquina e não passa das dez horas da manhã.
Enquanto livro o carro dos buracos da rua a cena entra em foco.
O casal toma uma cerveja no boteco da esquina.
Por um momento penso que estou na beira-mar. Por outro segundo verifico mesmo as horas.
Depois reconsidero pensando que estamos na sexta-feira da semana que fechou o carnaval.
E por fim me lembro de ter lido em algum lugar que o Mussum diria que você só é alcoólatra se bebe todo dia, se bebe toda a noite tá tranquilis. Perigoso.

Ela queria ter nascido com os olhos azuis e os cabelos longos e loiros.
O destino não se importa com nossos desejos mais íntimos e nos pare conforme ele mesmo desenha.
Mas ela, desafiadora, tingiu os fios sofridos da cor que bem entendeu.
Conversava com o possível príncipe encantado na calçada.
Não havia nenhum cavalo branco, apenas uma moto surrada, dessas que odiamos quando estão em movimento ameaçando a vida de nossos retrovisores.
Ela ria tímida enrolando a ponta dos cabelos nos dedos.
Namorico.

A vida vive ao nosso redor.
Eu presto atenção no farol, no buraco e no ciclista, mas as cenas do cotidiano invadem a minha visão periférica e abastecem a minha alma.


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