quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dolores

Quando chovia, a única preocupação era saber se o gato estava abrigado dentro de casa.
Depois era verificar se nenhuma roupa sobrara no varal.
E então havia o ritual de olhar janela por janela se todas estavam bem fechadas.
Acendia as lâmpadas mesmo que estivesse claro para se certificar de que não faltaria energia.
Desligava da tomada todos os equipamentos elétricos.
Recolhia o tapete da varanda em caso de respingar.
Separava alguns vasos. Uns para tomar chuva outros para proteger dos pingos grossos.
Quando chovia, sentia-se renovada e ocupada.
Tão ocupada que quando a chuva passava voltava em seus passos refazendo tudo o que havia feito e, então, sentava-se na poltrona preferida para se lembrar de quando a casa era cheia de gente e de como foi se esvaziando com o tempo.
Quando chovia, ela achava que já estava pronta para morrer.

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