O lugar onde nascemos. Não decidimos. Mas, quando adultos vamos escarafunchar os nossos antepassados e reunir uma papelada infinita para conseguir um documento que nos dê um "pedigree" diferente.
E com isso remendamos nossa existência com nacionalidades que herdamos.
Não decidimos nascer meninos ou meninas. E isso também se muda. Anatomia, nomes e documentação.
Branco ou preto.
Coreano ou norueguês.
Também não decidimos, não que eu alcance nessa dimensão, quem serão nossos pais.
Se seremos único, do meio, o quarto, o quinto ou o caçula.
Não decidimos nascer em uma família de muitos primos ou de nenhum.
Mas, quanto mais modernos ficamos, mais remendamos nossos desígnios.
Quando fico cansada de remendar eu penso que seria tão mais simples apenas aceitar e não pensar mais no assunto.
Não escolhemos a cidade em que nascemos. Mas, podemos decidir em que cidade vamos morrer.
Não escolhemos o século em que nascemos. Mas, podemos escolher um ano e um dia para morrer, eu nem deveria lembrar dessa possibilidade porque nada há de mais triste do que não suportar-se a ponto de preferir "desexistir".
Remendos.
Os cabelos cacheados, alisamos.
Os lisos, encaracolamos.
Os olhos castanhos, azulamos.
Os olhos cinzas, esverdeamos.
A pele branca, bronzeamos.
O nariz, arrebitamos.
Muita coisa precisa mesmo ser feita. Ficamos mesmo mais bonitos.
Os dentes, clareamos.
Aqueles tortinhos, endireitamos.
Remendos.
Alguns tão bem feitos que mais parecem uma obra de arte.
Ajeitamos aqui, ajeitamos ali, mas tem uma coisa que de jeito nenhum se ajeita... a alma.
Ela só espia o que vamos pelo caminho remendando.
imagem Remendos em Branco
LARA ROSEIRO AZEITÃO, Lisboa, Portugal. Artista Plástica. Licenciada em Pintura pela ARCA/EUAC, Coimbra. Mestranda em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
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