quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Chácara

Gostava de futebol, mas não via nisso futuro, tinha consciência de que era um perna de pau.
O tio era médico, orgulho da família, ainda mais que era obstetra e tinha ajudado a nascer metade daquela gente da cidade pequena. O tio ajudava a nascer tanta gente e não tinha filhos.
Na família culpavam a tia, magrinha, frágil, a mãe não concordava e defendia sempre. A mãe defendia todo mundo.
Mas, o advogado era o pai.
O pai era um advogado respeitado, de vara de família. Não era sempre que um grande caso se dava, como o do ex-prefeito, mas sempre tinha lá uma pensão ou outra pra ajustar e até pedidos de emancipação. Gente que queria ir se embora até para outro país sem dar satisfação aos pais.
Ele nunca pensara nisso.
As profissões exigem muito estudo, muita dedicação. Ele ficava cansado desde os primeiros anos escolares, de estudar a tabuada. De ler livros então, só se safava porque a mãe lia para ele em voz alta e administrava as crises do boletim com o pai.
O que salvava era o fato de ser tão sossegado que não despertava a ira no pai, como o Jaime despertava no pai dele. As brigas homéricas do vizinho com o filho até ajudavam a acalmar as expectativas do pai.
No fim de tudo, a mãe o ajudou a convencer o pai de que comprar e tocar uma “chacrinha” era um bom negócio.
E assim se fez.
Ele cuidava de hortas lindas e vendia as verduras mais vistosas na feira de sábado e nas quitandas dos bairros.
Galinhas ciscavam no seu pé enquanto ele se sentava na varanda para tomar a fresca do fim de tarde.
Enquanto isso, na família se comentava:
- e o filho do Geraldo não deu em nada
Só uma prima distante que por ele suspirava defendia:
- é, não deu em nada, mas é feliz!

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