Gostava de sentar e olhar o tempo perdido em seus
pensamentos, desde menino.
Naquela época rabiscava o chão com um graveto qualquer,
agora brinca com as correntes de ouro penduradas no mesmo pescoço branco, só
crescido.
Nunca tivera sorte na vida. Era um moleque magrelo, canela
fina e apesar de sempre ter comida na mesa, o bife era pequeno e de vez em
quando e, fruta, só as mangas do quintal.
Nada daquelas maçãs de conto de fadas que via na feira, ou
os morangos das caixas que às vezes carregava na mão, como preciosidade.
Jogava bola com o Tadeu, mas nunca tiveram uma bola nova
igual a do Rodrigo, que jogava sozinho, feito bobo dentro do quintal.
E bicicleta então, ah que vontade de ter uma novinha,
cheirando a plástico da fábrica, a óleo igual de carro.
Bicicleta até o Tadeu tinha e até o deixava andar, mas era comprada
de segunda mão e já tinha sido do irmão do Tadeu, vê lá se isso dá algum gosto?
Agora, de vez em quando conta as correntes e pensa em comprar
mais uma, bem grossa, e aí usar só ela.
Ia à escola, mas tinha tanto sono que tudo embaralhava. Ser
pobre não é defeito, dizia sua mãe. Mas ela nem tinha estudado, não sabia nada
da vida, escutava essas coisas na igreja e repetia. Talvez pra doer menos. Era
inocente sua mãe.
- hei menino, tá no mundo da lua, é? quanto cobra pra levar
meu carrinho de feira até em casa? Moro depois da linha, deve dar uns cinco
quarteirões...
Demorou pra responder, despertado de sua decisão, mas a
resposta foi firme, como se preparada em banho maria como o pudim de muito de
vez em quando.
- hoje não vou cobrar nada não, também moro lá praqueles
lados e não vou mais trabalhar aqui de levar carrinho de feira, mas bem gostava
se a senhora me desse um moranguinho desses...
Eduardo, é assim que as pessoas pensam que ele se
chama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.