Era
elegante.
Bonito não,
com lábios finos, nariz adunco. Mas elegante sim. Alto, magro.
Nadava. Não
vários estilos porque aprendera a nadar no ribeirão.
Apesar da
aflição da mãe, escapava com a turma da rua e era um tal de nadar pra cá e pra
lá, diversão garantida nas tardes quentes de verão.
Por sorte,
todos os que iam sempre voltavam. Um arranhão ou outro, coisa boba.
Não era um
craque na bola, mas a pelada com os moleques era sagrada e, por isso, nunca
passou vergonha com a bola nos pés.
Tênis não
jogava. E pra isso tinha sempre uma desculpa que nunca causou estranheza.
Sabia usar
os talheres.
Era muito
educado.
Falava
inglês e já visitara alguns países.
Jogar golfe
não combinava com seu jeito quase desconcentrado de ser. Era o que ele
imaginava que os outros pensavam, mas era exatamente o contrário.
Tão calado e
misterioso, poderia ser um bom parceiro!
Andava de
bicicleta. Fácil.
Comia frutos
do mar com requinte e moderação.
Nunca falava
de seus colégios. Nunca falava de seus acampamentos ou de suas lembranças da
Disney, de suas viagens, da casa dos avós.
Nunca
mostrava fotos de sua turma ou de seus irmãos. Tinha uma foto com a mãe e o pai,
a quem lembrava muito, tão descontextualizada que nada se poderia concluir.
Era calado.
Fazia parte de sua elegância.
A sua
eloquência guardava para o seu analista, com quem falava, chorava, desabafava,
sorria, repensava, mas até onde se sabe nunca foi capaz de resgatar a verdade.
Entre os
seus, de agora, não pegava bem ter sido pobre. Nadar em ribeirão, morar em
vila, estudar em escola pública e nas férias vadiar roubando frutas e
procurando mamonas para o estilingue.
Era apenas elegante.
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