Deixou que o vento levantasse a saia.
Trigueira ela.
Sempre ouvia essa palavra para definir sua morenice: morena trigueira.
Nem sabia o que era isso.
Por enquanto não lhe servia para nada.
Sonhava sonhos de adolescentes.
Comprava revistas com os trocados que a mãe lhe dava.
Olhava os mínimos detalhes de cada foto.
A correntinha no tornozelo da modelo.
A cor do esmalte da unha de outra.
O jeito de prender o cabelo.
Isso era sempre tão perturbador...
Porque elas pareciam sempre descabeladas
e mesmo assim lindas
ao passo que ela, quando descabelada tão feia
e quando o cabelo arrumado com cara de tão antiga...
Acelerou o passo.
A mãe precisava das compras.
Depois esperou para atravessar a rua e foi então
que ele sorriu.
A mãe precisava das compras,
mas ele era tão bonito
A mãe ia ficar tão brava, mas ele era tão educado
A mãe ia desfiar o sermão que já tinha até decorado,
mas ele parecia saído daquelas revistas que ela guardava com tanto cuidado.
Trigueira ela. E muito bonita.
A mãe precisava das compras, mas ela nunca mais voltou.
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