segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Para olhos azuis

Com meu pai aprendi a gostar de pipoca
a ser honesta
a gostar de futebol
a olhar o relógio e obedecê-lo
cegamente
Com meu pai aprendi a gostar
das estradas e dos mapas
como veias serpenteando um corpo
Com meu pai aprendi a gostar
de música sertaneja
de assoviar
de fazer troças com os medos
da minha mãe
Aprendi a gostar de milho cozido
de sentar à cabeceira da mesa
Aprendi a desconfiar de meio-sorriso
Com meu pai aprendi a vida
e a ver tudo azul
numa tentativa desesperada e
inútil de imitar nos meus,
a cor inconfundível dos seus olhos azuis!

Escrito em 21 de fevereiro de 1999, as 8h14 - seis meses depois de seus olhos terem se fechado para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.