sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Canteiro Central

Era bonita. Para olhos não exigentes com a simetria das formas.
Pequena. Morena. Cabelos lisos.
Ele não era feio. Distinto. Negro, magro, maduro.
Ele segurava um papel na mão e ela indicava a direção, o melhor caminho.
Canteiro central da avenida travestida de carros, enfeitada de motos, como se fossem os gigantescos colares de um pescoço disforme.
O guarda no farol olhava mais o rebolado de quem corria para atravessar a rua do que para o motorista inventando uma improvável quarta pista de rolagem.
Eles estão indiferentes. Ele perguntou, ela respondeu.
Ninguém percebeu.
Ele agradeceu comovido. Comovido? Impossível afirmar.
Ela sorriu como quem diz imagina, não foi nada.
Ele foi para a direita e ela para a esquerda.
Ou vice-versa dependendo do olhar.
Eu não fui para lado nenhum, engolida pelo congestionamento, mas pude ver a vida gentil que pode existir no canteiro central.
E então está bem, ficamos assim.




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