terça-feira, 18 de outubro de 2011

Álibis


E o que aconteceu naquela quarta-feira foi que saí desavisado
de que choveria e não levei a capa nem o guarda-chuva. Aliás,
esqueci-me até do chapéu.
Saí atrasado, apressado.
Queimei a mão na caneca de café, pisei no rabo de Aristodemo,
que como sempre, dormia na porta da cozinha.
A verdade é que não dormi bem. Tive pesadelos, fui picado por
pernilongos.
E como se não bastasse a noite infernal, o dia! Tem muitas
goteiras na repartição, eu não sabia se trabalhava ou se acudia os
móveis do aguaceiro.
Não pode me poupar? Vou para casa, tomo um banho e volto.
Como naquele dia, saí sem o guarda-chuva e preciso tirar essa roupa
molhada.


Faço questão de dizer que não sei de nada. Vim porque fui
obrigada.
Naquela quarta-feira eu fiz o que faço todos os dias. Sou uma
mulher de respeito, não fico de lá para cá.
Levantei cedo, fiz o café, arrumei a mesa e fui lidar no quintal.
Vi quando ele saiu porque Aristodemo gritou. Ele sempre pisa
no rabo do bichinho.
Eu sabia que ia chover porque tinha escutado no rádio. Por
isso nem fui para o tanque, fui fazer uns consertos nas roupas. Pregar
botão, arrumar barra, essas coisas.
Não posso ajudar. Não saí de casa, eu tenho medo de chuva.


Gozado, eu não me lembro bem daquela quarta-feira. Mas
também, não sou um homem de ficar recordando, observando,
guardando detalhes.
Sei é que choveu muito ali pelas dez da manhã.
Disso eu recordo porque era a hora que eu ia ao Dr. Veiga e
nem pude sair. Meu dente está sem arrumar até hoje.
Fiquei na sala fazendo contas, sabe como é, hoje em dia é tudo
na ponta do lápis.
Pois é isso, fiquei em casa o tempo todo.
Almocei. Sentei um pouco na varanda e fiquei olhando a
chuva.
Passei o dia olhando a chuva.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.