E quando
morreu tornou-se um homem bom.
A mulher não
enumerou as coisas que a irritavam como toalha molhada na cama, quando ignorava
o guardanapo e limpava a boca na barra da toalha de mesa. Coisas pequenas.
Nem as
coisas grandes vieram à tona como quando, embriagado, lhe dava uns sopapos e jogava os pratos pelo chão sempre reclamando que não tinha carne. No dia
seguinte acordava para ir trabalhar e lhe falava para pagar a conta de luz como
se nenhuma sombra tivesse manchado a noite anterior.
Os amigos da
oficina também só se lembravam das piadas e do jogo de dominó no intervalo de
almoço. Nada dos gritos histéricos quando as ferramentas não estavam limpas ou
no lugar certo. Nem do dia em que atirou uma chave de fenda em um vira-lata que
só queria fazer amizade. O Ramirez adotou o bicho e levou pra casa, coitadinho,
todo assustado.
A mãe não chorou,
porque já tinha partido havia dois anos. Ninguém imaginava que fosse morrer
cedo. Mas, quando morreu, tornou-se um homem bom, como costuma acontecer com todo
homem que trabalha, paga impostos e uma coisa aqui e outra ali é que enerva e
tira dos trilhos.
No dia
seguinte ao seu enterro continuava sendo um homem bom aos que ainda davam os
pêsames à dona Etelvina. Mas isso ia durar só até que a Margarete vencesse os
200 metros entre o ponto de ônibus e a casa do Tadeu, para onde arrastava os
dois moleques e ia reivindicar que algum dinheiro fosse destinado a eles porque
era o Tadeu que lhe pagava o aluguel e lhe botava comida na mesa!
Adorei! Agora conta a história da dona Etelvina, que sempre foi uma boa mulher até que... :-)
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