Vadiava pela
rua em uma tarde ensolarada.
Vadiar é um
termo pesado para um menino de oito anos que já estudou pela manhã e está sem
os amigos e entediado.
Caminhava
pelas ruas dos quarteirões vizinhos à sua casa em uma tarde ensolarada.
No quintal
de terra da casa silenciosa, muitos brinquedos descansavam à sombra de uma
árvore.
Olhou de um
lado, olhou de outro. Abriu o portão de madeira sem fazer ruído e rápido como
um coelho fechou a mão em um dos carrinhos e fez o trajeto de volta com o
coração aos pulos.
Mais tarde,
em casa, já de banho tomado escutou palmas. Quando apareceu na porta para
espiar, já o grupo falava e gesticulava muito.
A mãe
segurava a ponta do avental.
Eram três
meninas e um menino. A maior delas contava que da janela da sua casa vira
quando ele entrou no quintal e roubou o carrinho.
A mãe
chamou.
Com as
perninhas bambas já veio com o carrinho na mão e contou que encontrou na
calçada e que tinha trazido consigo para ninguém pegar e que ia devolver no dia
seguinte.
Ninguém
acreditou.
As meninas
foram embora falando alto e gesticulando.
Ele sentiu
as orelhas quentes e vermelhas.
A mãe
perguntou mais uma vez o que havia acontecido e ele repetiu a mesma história.
Ela não
acreditou, mas não fez nada. Tinha tanto o que fazer, tanto com o que se
preocupar.
Achou que
era coisa de criança e que a vergonha que ela enxergava nele já poria as coisas
no rumo.
Ele repassa
a história uma e outra vez. Pensa em contar para o terapeuta, mas quando se senta
na sala, tudo o que lhe ocupa a mente é um jeito de conseguir levar aquele
abridor de cartas de prata. Tão raro objeto, tão precioso objeto que ainda será
seu!
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