segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Raro objeto

Vadiava pela rua em uma tarde ensolarada.
Vadiar é um termo pesado para um menino de oito anos que já estudou pela manhã e está sem os amigos e entediado.
Caminhava pelas ruas dos quarteirões vizinhos à sua casa em uma tarde ensolarada.
No quintal de terra da casa silenciosa, muitos brinquedos descansavam à sombra de uma árvore.
Olhou de um lado, olhou de outro. Abriu o portão de madeira sem fazer ruído e rápido como um coelho fechou a mão em um dos carrinhos e fez o trajeto de volta com o coração aos pulos.
Mais tarde, em casa, já de banho tomado escutou palmas. Quando apareceu na porta para espiar, já o grupo falava e gesticulava muito.
A mãe segurava a ponta do avental.
Eram três meninas e um menino. A maior delas contava que da janela da sua casa vira quando ele entrou no quintal e roubou o carrinho.
A mãe chamou.
Com as perninhas bambas já veio com o carrinho na mão e contou que encontrou na calçada e que tinha trazido consigo para ninguém pegar e que ia devolver no dia seguinte.
Ninguém acreditou.
As meninas foram embora falando alto e gesticulando.
Ele sentiu as orelhas quentes e vermelhas.
A mãe perguntou mais uma vez o que havia acontecido e ele repetiu a mesma história.
Ela não acreditou, mas não fez nada. Tinha tanto o que fazer, tanto com o que se preocupar.
Achou que era coisa de criança e que a vergonha que ela enxergava nele já poria as coisas no rumo.
Ele repassa a história uma e outra vez. Pensa em contar para o terapeuta, mas quando se senta na sala, tudo o que lhe ocupa a mente é um jeito de conseguir levar aquele abridor de cartas de prata. Tão raro objeto, tão precioso objeto que ainda será seu!

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