Andou de lá pra
cá, de cá pra lá e não tinha nada a dizer.
Voltou da
escola mais cedo, com o joelho ralado.
A mãe,
espantada, perguntou o motivo, mal ouviu a resposta e seguiu estendendo a roupa
no varal.
Foi para o
quarto que dividia com os outros dois irmãos.
Olhou para
cá, para lá e pela janela através da cortina de pano barato.
Tirou o
lanche da mochila e comeu.
Encheu o
tapete de farelo.
Não gostava
de tapete, sempre tropeçava, ficava desarrumado e era motivo para as broncas da
mãe.
Mãe... Pra
que cuidar tanto de uma casa tão pobre e tão feia? Precisava limpar tanto? Por
tanto pano na janela, no chão, se era tudo pano velho?
Apertava o
coração com medo do padre que dizia que ter inveja era pecado.
Ele tinha
inveja do Sérgio. Que tinha uma casa linda, que tinha tênis de tudo quanto é
tipo, sempre tão novos e limpos. Tinha a mochila mais bonita da turma. Nem
levava lanche, comprava de tudo na cantina todo dia.
Ele tinha
inveja. Tinha medo, mas tinha inveja.
Era por isso
que tinha dado tanto nele pouco antes do intervalo, quando se esbarraram no
corredor.
Não era
motivo. Todo mundo falou. O professor, a diretora. Suspenso. Ele que sempre fora tão tímido e quieto que quase invisível?
Queria poder
nunca mais voltar para a escola e olhar para o que não tinha.
A mãe chamou
para almoçar. Ele saiu pela janela pensando em nunca mais voltar.
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