Hoje vi os pezinhos gordos, descalços, balançando sossegadamente e o cabelo negro preso com charme.
Quando chego ao trabalho o primeiro sorriso que recebo é do moço da limpeza. Um sorriso descompromissado, iluminado.
E os cães passeiam pelo bairro levando seus donos no outro lado da coleira.
No prédio, o mais simples da rua, no mesmo apartamento, uma janela exibe uma bandeira do Corinthians e a outra exibe uma bandeira do Palmeiras. Fico pensando que ali convivem duas pessoas que se gostam muito a ponto de suportar absurda diferença.
Na janela de outro apartamento um gato que não torce para time nenhum toma sol, no vão entre a vidraça e a tela protetora.
O frentista toma sol.
O segurança da escola de inglês espreita a rua.
Quase todo dia eu vejo toda essa gente que não me vê.
Passo apressada, atrasada para a reunião.
Passo cantando, acompanhando uma música no rádio que sempre me surpreende com uma canção esquecida.
Passo olhando os buracos da rua, o farol da esquina, o ponteiro do combustível.
Eu passo e eles não me vêem.
Eles passam e eu espero que tenham um destino certo, uma existência leve e que me deixem desfrutar da poesia escondida em suas rotinas.
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