quinta-feira, 30 de junho de 2011

Escola Primária

Não fiz pré-escola, fundamental um, nem dois, nem recreação, nem nada disso.
Fui direto para o primeiro ano passada já dos sete anos.
Morava em Tupã, não espantará ninguém saber que minha escola se chamava Bartira.
Era enorme. Naquela época, para mim.
Ficava na praça central da cidade, ao lado da Igreja Matriz.
Eu nunca comia nada oferecido pela cozinha, só canjica.
Tomava meu lanche em bancos de madeira, em pátio de terra, embaixo de árvores, sombra gostosa.
Chorei muito quando não tirei 100 - mesmo tendo tirado 98, a nota mais alta da sala de aula.
Minha professora se chamava Dona Terezinha.
Quando nos despedimos dela, no final do ano, nos entregou um chinelinho azul que tinha feito de papelão e lã desfiada, com um bilhetinho dentro que falava algo sobre seguir um caminho suave.
Caminho Suave era o nome da cartilha com a qual aprendi a ler.
Levei puxão de orelha da Dona Terezinha porque respondia o que os colegas não sabiam sem ser convidada.
Minha intenção não era aparecer, como pode parecer, faz livrar os colegas da aflição do silêncio, da espera, do medo, uma angústia!
Nunca ninguém acreditaria nessa explicação, então nunca expliquei. Apenas levei puxões de orelha.
Eu tinha inveja da Maria Paula porque ela fazia aulas de piano, em um piano lindo na sala da casa dela.
Ela odiava o piano.
E também tinha inveja da prima dela, que já não me lembro o nome, porque a mãe dela a deixava assistir o Fantástico, a minha mãe não.
Eu achava o máximo que a filha do prefeito morava na casa mais bonita, bem em frente a praça e só precisava atravessar a rua para chegar à escola, enquanto eu andava quadras e mais quadras.
Mas quando eu voltava à tarde para o catecismo, ficava com pena dela, brincando tão sozinha, tão limpinha, tão presa naquele castelo.
Eu declamava poemas nas comemorações de sete de setembro, na frente de todo o grupo escolar incluindo o diretor!
Eu chorava se tivesse que faltar à aula por estar febril ou coisa parecida.
Eu usava saia de pregas azul, camisa branca, meias três quartos e sapatos pretos.
Da minha mala preta, impecavelmente arrumada, reconheço o cheiro até hoje. Abro o fecho, cheiro as lembranças e rabisco palavras para nunca, nunca esquecer.

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