sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Balanço

O balanço, um contra-peso em minha vida. Balanço de corda e uma madeirinha qualquer como banco. Pedaço de corda amarrada em um galho de árvore. Árvore de quintal. Árvore forte de braços e galhos abertos. O ir e vir do meu corpo leve de criança equilibrando lado direito e esquerdo de um cérebro incansável. Descansar é balançar. Via o movimento do ar. As folhas rindo com minha alegria. Pedaço de céu azul indo e vindo. Nuvens passeando sem rumo. Tardes quentes da minha infância. Pés dando impulso. Mãos seguras, garantindo o sossego do pensar. Sentada, perigosamente em pé, sem as mãos, em um vai e vem sem sair do lugar. Hoje há avisos me alertando para peso e idade, limites a respeitar. Não tenho no quintal nenhuma árvore pronta para receber um balanço. Vejo minhas pequenas voando de lá pra cá. Rindo, experimentando saltos, fazendo estrepulias. É uma alegria profunda, um resgate da alegria da minha infância. Um resgate porque ontem fez 21 anos que balancei sozinha pela última vez, em uma tarde quente, em um sítio, perto de uma lagoa que, sem cerimonia, afogou meu amigo querido. Fiquei balançando devagar, sem pensar em nada, cantando:

...Se eu cantar, não chore não É só poesia Eu só preciso ter você Por mais um dia Ainda gosto de dançar Bom dia Como vai você?
...
Se eu morrer não chore não É só a lua É meu vestido cor de maravilha nua Ainda moro nesta mesma rua Como vai você? Você vem? Ou será que é tarde demais?
Nunca uma música disse tudo o que eu precisava dizer balançando sozinha enquanto alguns me procuravam para me fazer comer, dormir, viver.
Hoje precisei procurar a letra, mas naquela tarde de dezembro eu sabia cada palavra.

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