Pedaços tímidos entre o final da luva branca e a manga comprida do jaleco, branco, querem aparecer.
O jaleco protege a blusa branca, com um discreto decote em V. O que permite ver um pedaço do colo e um pedaço do pescoço, já protegido pela cabeça sempre baixa.
A máscara branca sobre a boca, a touca escondendo os cabelos.
A orelha exibindo-se livre, um brinco de bijouteria barata, já sem uma das quatro pedrinhas.
O que pago a essa manicure é mais do que o lixar de unhas e o colorido atrevido trocado todas as semanas.
Essa manicure está em uma saleta pequena, silenciosa e refrigerada.
Não trocamos mais palavras do que oi, como vai, como estão as meninas, as minhas bem e as suas? Que cor vamos por hoje?
E nada mais.
Até porque o silêncio agora ronda o mundo dela. Está ensurdecendo e muitas vezes percebo que não ouviu uma ou outra coisa que eu disse e eu sempre acho melhor deixar pra lá.
Pago pelo silêncio. Pago por quarenta minutos em que posso ficar com as mãos nas mãos de alguém que não quer pintar minhas unhas pra combinar com a minha roupa ou para que eu esteja apresentável em uma reunião.
Ela quer apenas cuidar das suas pequenas.
Eu quero apenas pensar ouvindo uma música suave. A manicure é parte fundamental da manutenção do meu equilíbrio que começa na segunda-feira.
Hoje pintei as unhas de Noite Quente da Colorama. Não tem importância nenhuma, informação irrelevante, o bom de ter escolhido rapidamente essa cor foi poder dedicar-me a pensar em espanhol, língua que tanto me encanta, e encontrei nos meus guardados uma frase interessante para começar:
A Dios no lo puede ofender nada ni nadie. Equivaldría a que el rasguño infinitesimal que una hormiguita hace al trepar por una montaña, pudiera causarle dolor a la montaña.
Pois é, a mim também, hoje e espero que por muito tempo, os brutos serão formiguinhas andando pela montanha, não poderão me machucar!
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