quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Famílias

Cresci em uma família de pai, mãe e cinco filhos no total, eu aí incluída na quarta posição.
Não morávamos perto de parentes e convivi um pouco com meu avô paterno e com minha avó materna.
E achava que eles deviam se casar, já que ambos eram meus avós e todo mundo tinha par de avós.
Mas não é esse o tema.
Sempre tivemos almoços de domingos e brigas no final da tarde. Uma irmã brigada com a outra por conta de uma bota ou por conta do uso infinito do banheiro para o banho, mas para mim família era assim, pai, mãe e irmãos. Todos juntos, na mesma casa.
Depois a minha irmã se casou.
Minha outra irmã, a mais velha, se mudou para São Paulo.
Meu irmão se casou.
E a casa foi ficando cada vez mais pequena para tanta saudade e tanto silêncio!
Quando chegou a minha vez de partir encontrei abrigo, aconchego, proteção, carinho, um espelho da minha casa paterna no convívio com a minha irmã Lucia, que vivia em Sâo Paulo e foi então que eu descobri. Descobri outras composições de família, as famílias dos meus amigos.
Um tinha uma irmã com síndrome de down e um irmão preso. Do pai eu nunca soube.
Morava em uma casa grande, bonita, em um bairro arborizado. Ele era alegre, não se podia imaginar!
Outro morava com a mãe e mais quatro irmãos, um quinto, casado, morava em outro apartamento, mas eram próximos, amigos, agregadores. Dormiam todos no mesmo quarto, adultos, homens e mulheres. Em um apartamento de tantos quartos, de tantos cômodos, nunca entendi porque. Nunca me ocorreu perguntar, pareceria uma agulha furando uma bolha de sabão. O pai vivia em situação difícil, mal via os filhos. Alcoólotra.
Outra morava com a mãe e dois irmãos. Visitava o pai para pedir dinheiro.
Cada um tinha seu horário e pouco se viam, o que era melhor porque ao estarem juntos, sempre havia discussão.
Famílias sem pai. Claro que outras tantas com pais, mas essas eram iguais as minhas.
Eu observava, me preocupava por eles, sentia uma ausência que não me cabia, que não me dizia respeito.
Mesmo hoje, quando digo ah... filho único? Não vai ter um irmão para dividir, compartir, relembrar as histórias de sua infância, de seus sonhos e de seus pesadelos? Com quem vai exercitar essa arte? Ouço respostas como: não deu tempo, eu me separei, mas quem sabe...
Não é da minha conta. Nem a separação, nem o filho único, se é uma decisão, uma falta de opção, não me cabe ter nenhum juízo da valor, mas fazer o quê? Tenho um dó...

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