terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pessoas de fora da minha vida

Andava apressado como quem tinha um compromisso e não olhava para lado nenhum.
Os pés descalços há tanto tempo já não se importavam com tantas pontas, pedras, com asfalto quente ou com água suja escorregando em córregos impensáveis.
Uma visão do acostamento da Bandeirantes.


Sentado em sua esquina como quem se senta na sala de sua casa passava tardes infinitas rodeados por seus cadernos e suas anotações.
Erguendo a caneta e o olhar, pensando profundamente, buscando as melhores palavras, as melhores conjugações, não se incomodava com o vai e vem de carros, motos e pessoas.
Uma visão da avenida Brasil em São Paulo.


Sorriso aberto, banguela, as pernas esticadas na calçada onde eu evitava passar mas me obrigava a encarar, ela cuidava de seus gatos e muitas vezes, quase todas as vezes, investia toda a arrecadação do dia em ração Whiskas para seus gatos. Puxava conversa, dizia boa tarde, boa noite. Esses dias a vi em uma matéria de revista de grande circulação. Uma visão de uma rua do Itaim em São Paulo.


Nenhum sorriso. Olhos apagados. Fome escancarada na boca de dentes ainda branco.
Gestos desenhados, delicados. Coluna reta. A mão grande e suja esticava os dedos para pegar pedaços de pizza fria.
Uma visão da Alameda Casa Branca, Cerqueira Cesar São Paulo.
Um dia vi sua foto e li sua história. Bailarino que em depressão deu um gole e deixou seu rastro em uma casa para a qual nunca mais retornou.
Um bailarino.
Mendigos do meu caminho. Mendigos da minha vizinhança. Mendigos que retratam vidas desgarradas da vida.
Por que nunca lhe ofereci uma carona?
Por que nunca pedi para ler um texto seu?
Por que nunca perguntei sobre seus bichos escondidos na alma?
Por que nunca lhe pedi uma coreografia? Por que nunca o vi como um Danseur e por que nunca lhe convidei para um... Allegro?

Um comentário:

  1. Olá Lusia!
    Sou uma jovem estudante portuguesa da Escola Superior de Educação de Castelo Branco.
    Estou a fazer um trabalho de pesquisa sobre Marafonas, as bonecas de Monsanto, e ao pesquisar encontrei a sua história.
    Fiquei encantada com o seu testemunho e gostaria de saber se o posso usar no meu trabalho.
    Deixo o meu contacto e aguardo ansiosa a sua resposta.
    joana_ananas@hotmail.com
    Obrigada

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