E sobrevivo e sobrevôo porque leio.
Não lembro de mim sem ser um ser leitor. Pequena na constituição, mãos grandes e magrelas e fortes o suficiente para segurar livros.
Eu leio.
Eu passo pelas vitrines e posso resistir até mesmo a um sapato e uma bolsa.
Mas dificilmente eu posso resistir a um livro.
Leio a resenha na revista.
Leio um pouco mais na internet e fico a um clique pulsante de mão e coração para comprar.
E esgotado é a palavra que mais perturba nesses momentos.
Livros são sempre caros. De queridos, nunca precificados. A racionalidade fica para depois.
Sempre há uma listinha que me segue, no excel, no celular, no que a cabeça dá conta de armazenar.
Nomes. Capas. Histórias que sei começar mas não sei como acabar.
Na livraria passo os olhos pelas prateleiras.
Não resisto em perguntar.
A moça é mais que simpática, é hábil para encontrar: Grotescas - Natsuo Kirino.
Não é um livro barato, mas não posso me separar dele.
Ele me espera na mesinha de cabeceira, enquanto termino E depois, de Natsume Soseki.
E se me perguntar com que personagem eu poderia me identificar eu posso dizer que acabei de encontrá-lo, ali mesmo em E depois, na página 192 - quando Natsume descreve Daisuke:
E, pela força do hábito, sentia-se arrasado se ficasse um único dia sem ler ao menos uma única página. Por isso, houvesse o que houvesse, sempre procurava dar um jeito de manter intimidade com as letras impressas. Às vezes, tinha a impressão de que seu único e verdadeiro talento era o de leitor.
Eu apenas trocaria uma única página por uma pagininha...
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