quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fotograma

Ele dirigia um caminhão de lixo, moreno, de boné, entrou na minha frente sem a menor cerimônia quando a preferencial era minha.
Eu não quis voltar a olhar para ele quando fez a curva, porque não queria sentir raiva de um ser humano que é apenas um infeliz exercendo o seu mísero poder.

Eram bonitos eles.
Ela em uma improvável calça cor de limão e camiseta branca apoiada na bicicleta, um pé no chão, um pé no ar. Os cabelos transformados fugindo do rabo de cavalo esvoaçando pelo rosto moreno e sorridente.
Ele suportava o peso da mochila para conversar mais e mais com ela. Parados na passarela da ponte. De onde vinham e para onde iam ninguém precisa saber.

O dono tinha uma aparência lamentável. O cão parecia um príncipe descansado no gramado, sobre o cobertor. Vira-lata. Loiro. Grande. Cara de bonachão. E depois, se fosse uma cadela, seria tudo isso e um pouco mais. Esperando seu destino de vira-lata de mendigo, parecia mais um rei bom.
São bons e fiéis os cães dos desvalidos.

Fotogramas do meu caminho.
Fotogramas da cidade.
Fotogramas que vão compondo o filme da minha retina, que repinta o que me faz sentir.



Um comentário:

  1. São os dias que no conta-gotas, contam a nossa história de vida! E a cada fotograma que tiramos, aprendemos um pouco daquilo que somos! =)

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