quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Na festa de casamento

Se fosse um moleque estaria correndo pelo salão, tropeçando nas cadeiras, levando bronca de alguns adultos, mas ainda assim correndo suado em algazarra.
Mas não. Estava enclausurada dentro de um vestido de babados cor-de-rosa e um sapato boneca.
Já se vê que tem esse nome porque bonecas não se mexem e, assim, não machucam os pés.
Os cabelos em cachos dourados sobre a fase rosada.
Os olhos azuis ávidos de nada, porque nada podia fazer.
Tédio.
Fosse um moleque e não teria tantas vezes a cabeça acariciada, os ombros sacudidos, nem precisaria fixar um sorriso para ouvir um rosário elogios:
- como está crescida!
- que boneca!
- como está linda essa menina!
- meu deus que olhos são esses
- ai, não, e esses cachos louros!
- nossa, que encanto!
- puxa, papai vai ter problemas, hein?
- mas que mocinha que está!
E por aí afora.
Tédio.
Fosse um moleque e se enfiaria embaixo da mesa para roubar uns docinhos pela parte de trás, que era bem possível. E eles nem perceberam!
Mas, talvez se fosse um deles também não percebesse.
Se fosse um moleque não precisaria passar frio com aquele agasalho tão leve para não “atrapalhar” o vestido!
Se fosse moleque, apesar do terno, estaria correndo pelo salão, tropeçando nas cadeiras, levando bronca de alguns adultos, mas ainda assim correndo sem saber para onde, quem sabe feliz, quem sabe não.
Essas coisas não se sabem quem decide!

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