Do que mais gostava era de ser deixado em paz.
Em sua cadeira, na varanda, com um vento fresco batendo no verão.
Em um canto do sofá da sala, quando o vento esfriava anunciando o inverno.
E, sem sair do lugar, viajava mundo pensando em lugares.
Pensando nas pedras do Algarve.
Lembrava sempre e ainda achava graça do amigo português que, surpreendido com a notícia de que ele embarcaria para Portugal perguntou assustado:
- Portugal? O que vai fazer lá? Lá só tem pedra...
Achou que o amigo ficaria orgulhoso de visitas em seu país natal.
É, nunca se sabe tudo sobre as pessoas.
E do que mais gostava, quando estava entregue as suas lembranças, eram os cheiros que lhe chegavam, frescos como da primeira vez.
O perfume suave da professora de catecismo.
O perfume do refogado do arroz fritando na panela.
O perfume da dama-da-noite plantada na calçada.
Tudo o que tinha vivido tinha servido para lhe deixar descansar em paz.
Do que mais gostava era ver crescer os netos cheios de alegria.
As meninas sempre aprendendo mais depressa do que os meninos.
As noras tão jovens e tão bonitas.
Os filhos tão respeitáveis em seus carros novos.
A televisão que preferia desligada tão moderna em sua finura de botões escondidos no controle que sim, queria remoto.
Ver a vida era apenas olhar para dentro de si e ao redor, sem precisar ir muito longe.
Do que mais gostava era de ser deixado em paz para saborear as escolhas certas que tinha feito na vida.
Só o que não previra era que Madalena se fosse tão antes dele, antes mesmo do segundo neto nascer, e isso era uma mágoa que tinha com a vida e sabia, que em algum momento, iriam ajustar essa conta.
A única que lhe ficara pendente.
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