Limpava as saias do cafezal.
Não por prazer, por obrigação.
Tinha nascido por ali.Crescido pelos sítios da redondeza.
Com pai e mãe que também trabalhavam na roça.
Tinha orgulho daquele cafezal. Cuidava sozinho dele e tinham as saias mais bonitas da região.
Carregado.
Gostava de comer a frutinha vermelha do café.
Gostava de descansar, logo após o almoço, embaixo de uma das saias.
Chegava a sonhar depois que esvaziava a marmita que a mãe preparava ainda de madrugada.
Gostava de tudo isso, mas tinha sonhos de ir para a cidade grande.
Trabalhar em alguma coisa que entrasse as oito, que saísse para almoçar e voltasse à tarde.
Para um quarto de pensão, com televisão.
Usar roupa sempre limpa.
Comer um prato feito no bar da esquina.
Sonhava com isso. Quando contava para um ou outro amigo, nenhuma reposta de incentivo.
Todo mundo estranhava.
O único que dava uma força era o Tonico. Mas o Tonico achava esse sonho pequeno demais.
Ir para a cidade? Sim! Mas para a cidade grande, a maior de todas, São Paulo.
Trabalhar? Sim! Mas trabalhar no Banco do Brasil ou nos Correios ou na Caixa Econômica!
E usar roupas limpas? Sim senhor, camisas brancas, gravatas, sapatos engraxados!
Morar em pensão... Imagina. Primeiro alugar um apto, pequeno, mas bem localizado e depois comprar!
Era sonho demais pra ele, o Tonico sempre exagerando!
A mãe não podia nem ouvir falar que já saia assoando o nariz e enxugando os olhos.
O pai balançava a cabeça. Queria concordar, mas tinha medo da mãe.
O silêncio que mora embaixo de uma saia de café é cúmplice de toda dúvida.
O Eustáquio sabia disso como ninguém, mas com ninguém podia dividir esse outro segredo.
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